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Burkina Faso: piores ataques jihadistas desde 2015 deixam ao menos 160 mortos

06/06/2021 13h25

O balanço de vítimas de dois ataques no norte de Burkina Faso, cometidos entre a noite de sexta-feira (4) e a madrugada deste sábado (5), subiu para ao menos 160 civis mortos. Trata-se do massacre mais violento no país desde o início da violência extremista islâmica, em 2015.

No total, "160 corpos foram enterrados ontem (sábado) em três valas comuns pela população local (...), entre eles cerca de vinte crianças", disse um político da região. Um balanço confirmado por outra fonte local especifica que "50 corpos foram enterrados em cada uma das duas primeiras valas comuns e 60 na terceira".

Os ataques foram cometidos na chamada zona das "três fronteiras" - entre Burkina Faso, Mali e Níger -, regularmente alvo de extremistas ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico contra civis e soldados. Durante a madrugada, indivíduos armados realizaram a incursão em Solhan, na província de Yagha.

"Vários feridos sucumbiram pelos ferimentos e novos corpos foram encontrados", informou um deputado local na noite de sábado, que especificou que "os corpos foram enterrados em valas comuns". Dezenas de feridos continuam em recuperação.

ONU expressa "indignação"

Em declaração, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, mostrou-se "indignado" com o massacre, como informou seu porta-voz neste sábado, quando o ataque tinha deixado pelo menos 100 mortes confirmadas. "O secretário-geral está indignado com a morte, hoje [sábado] cedo, de mais de 100 civis, em um ataque por agressores não identificados a uma aldeia na província de Yagha, na região do Sahel de Burkina Faso", disse Stephane Dujarric, em comunicado.

De acordo com uma fonte local, o ataque, que começou por volta das 02h (23h de sexta-feira no horário de Brasília), primeiro teve como alvo um posto dos Voluntários pela Defesa da Pátria, os VDP, de apoio civil ao Exército, e "depois os agressores foram às casas dos moradores, que foram executados".

"Além do pesado tributo humano, o pior que registramos até hoje, as casas e o mercado (de Solhan) foram incendiados", declarou outra fonte da segurança. Um luto nacional de 72 horas foi decretado pelas autoridades, a partir deste sábado às 0h até segunda-feira (7), às 23h59.

Série de ataques

Sohlan é uma pequena cidade localizada a cerca de quinze quilômetros de Sebba, capital da província de Yagha, não muito longe da fronteira com o Mali, e registrou vários ataques nos últimos anos. No dia 14 de maio, o ministro da Defesa, Chériff Sy, e membros da hierarquia militar foram a Sebba e garantiram que a situação havia voltado ao normal, após inúmeras operações militares.

Este último ataque cometido por supostos extremistas islâmicos foi realizado pouco depois de outro, também na sexta-feira à noite, em um vilarejo na mesma região, Tadaryat, no qual pelo menos 14 pessoas foram mortas. Os ataques acontecem uma semana após dois outros atos violentos na mesma área, nos quais quatro pessoas foram mortas. Nos dias 17 e 18 de maio, quinze moradores e um soldado morreram em dois ataques a uma aldeia e uma patrulha no nordeste do país, segundo o governador da região.

Desde 5 de maio, diante do aumento da violência terrorista islâmica, as forças armadas lançaram uma operação em grande escala nas regiões norte e do Sahel. Durante este sábado, filas de pessoas fugiram para Sebba, relatou um deputado local sob anonimato.

"Esses deslocamentos também causaram vítimas porque três pessoas morreram no eixo Solhan-Sebba, quando a carroça que as transportava explodiu ao passar por cima de uma mina artesanal", relatou.

Apesar do anúncio de inúmeras operações desse tipo, as forças de segurança têm dificuldades em conter a espiral de violência, que deixou mais de 1.400 mortos e mais de um milhão de desabrigados desde 2015.