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Argélia elege deputados em clima de repressão a protestos

12/06/2021 10h29

Os eleitores argelinos vão às urnas neste sábado (12) em eleições legislativas antecipadas, sob protesto da oposição e num clima de repressão. Esta é a primeira disputa eleitoral para o Parlamento, desde o levante popular de fevereiro de 2019 e a rejeição a um quinto mandato do presidente Abdelaziz Bouteflika, forçado a renunciar após 20 anos no poder.

Após uma campanha apática, os partidos pró-governo apelaram à participação em massa dos eleitores, enquanto o movimento Hirak, que luta por uma mudança radical no "sistema" de governo em vigor, denuncia uma farsa eleitoral. Parte da oposição fala em clima de repressão total.

A participação dos eleitores na manhã deste sábado era baixa. "Nunca votei e desta vez será igual. Não acho que as coisas possam mudar", disse Fatiha, uma corretora de 50 anos.

"Votei pela estabilidade do país. Estamos cercados de perigo. Aqueles que recusam o voto não oferecem alternativa realista", defendeu, por sua vez, Hamid, um executivo de 60 anos.

Em Cabila, região rebelde onde a participação foi quase nula durante as consultas eleitorais anteriores, a maioria dos centros de votação não abriu em Béjaïa e Tizi Ouzou, de acordo com Saïd Salhi, vice-presidente da Liga Argélia para a Defesa dos Direitos Humanos (LADDH )

O regime está determinado a impor seu projeto eleitoral, ignorando as demandas do Hirak que incluem a defesa do Estado de Direito, uma transição democrática, a soberania popular e justiça independente. "Para mim, o comparecimento [às urnas] não importa. O importante é que aqueles em quem o povo votar tenham legitimidade suficiente", disse o presidente Abdelmadjid Tebboune, mostrando-se "otimista" depois de ter votado na capital Argel.

1.500 listas eleitorais

Cerca de 24 milhões de argelinos estão aptos a eleger os 407 deputados da Assembleia Nacional do Povo para um mandato de cinco anos. Eles precisam escolher entre cerca de 1.500 listas eleitorais, mais da metade das quais são exibidas como "independentes". Essa é a primeira vez que um número tão grande de independentes se apresenta para enfrentar candidatos endossados ??por partidos amplamente desacreditados e responsabilizados pela crise no país.

Os vencedores das eleições legislativas anteriores de 2017, a Frente de Libertação Nacional (FLN) e o Rally Democrático Nacional (RND), associados à era de Abdelaziz Bouteflika, estão hoje desacreditados.

Devemos também levar em consideração o movimento islâmico moderado que decidiu participar da votação. Abderrazak Makri, presidente do Movimento da Sociedade pela Paz (MSP), próximo à Irmandade Muçulmana, disse que estava "pronto para governar" em caso de vitória.

O chefe do Estado-Maior do Exército argelino, general Saïd Chengriha, alertou contra "qualquer plano ou ação que vise perturbar a conduta" da votação.

Considerada uma fachada civil da instituição militar, o governo da Argélia tem feito esforços nos últimos meses para reprimir protestos, proibindo manifestações e intensificando prisões e processos judiciais contra seus opositores, ativistas, jornalistas e advogados.

Na quinta-feira (10), três figuras do Hirak foram presas: o oponente Karim Tabbou, Ihsane El Kadi, diretor de uma estação de rádio ligada aos protestos, e o jornalista independente Khaled Drareni. Todos foram libertados na noite de sexta (11).

"Estas eleições honestas e transparentes vão derrotar todas as estratégias diabólicas fomentadas [contra a Argélia] por grupos com fins destrutivos", afirmou neste sábado o porta-voz do governo, Amar Belhimer.

Cerca de 220 pessoas estão presas atualmente na Argélia por atos relacionados ao Hirak ou protestos contra a ameaça a liberdades individuais, de acordo com o Comitê Nacional para a Libertação de Detidos.

As sessões eleitorais ficam abertas até às 19h00 (18h00 GMT) e os resultados oficiais são esperados para o domingo (13).