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Cinco líderes da dissidência sandinista são presos na Nicarágua

14/06/2021 12h09

A polícia da Nicarágua prendeu neste domingo (13) cinco líderes da dissidência sandinista, todos membros do partido de centro esquerda Unamos. Na perspectiva de eleições gerais no próximo mês de novembro, as perseguições ou detenções de opositores se multiplicam no país. 

Entre os detidos, estão personalidades do movimento sandinista que participaram da revolução de 1979 e que se tornaram símbolos da oposição ao governo de Daniel Ortega: Dora Maria Tellez e Ana Margarita Vigil Guardian, dirigentes do partido Unamos, a presidente e a vice da sigla, Suyen Barahona Cuan e Hugo Torres, militar aposentado. A última prisão, à noite, foi do ex-vice-chanceler e dissidente Victor Hugo Tinoco. 

Em nota, a polícia nicaraguense afirmou que eles "estão sendo investigados por praticar atos contra a independência, a soberania e a autodeterminação e incitar a ingerência estrangeira nos assuntos internos", além de outros crimes. Segundo o comunicado, os dissidentes serão investigados e, se necessário, encaminhados "às autoridades competentes para seu julgamento e determinação das responsabilidades penais".

Em dezembro do ano passado, o país aprovou a polêmica "Lei de Defesa dos Direitos do Povo à Independência, Soberania e Autodeterminação para a Paz", que pune com prisão aqueles que "promovem a intervenção estrangeira" na Nicarágua. Desde então, o cerco vem se fechando aos opositores que possam representar uma ameaça ao presidente Daniel Ortega.

Luta contra a ditadura

Dora Maria Tellez, de 65 anos, foi uma das comandantes das frentes guerrilheiras que lutaram contra a ditadura de Anastasio Somoza na década de 1970. Nos anos 1980, durante a revolução sandinista, também foi ministra da Saúde. 

Em 1995, ajudou a fundar o movimento MRS com dissidentes sandinistas, atualmente o partido de centro esquerda Unamos. A sigla faz parte da plataforma de oposição ao governo Ortega, desde 2007 no poder com sua esposa Rosario Murillo. 

Já Victor Hugo Tinoco é um sociólogo de 68 anos com uma longa trajetória na luta sandinista desde 1973, quando se integrou à guerrilha. Ele participou em vários processos de negociação com grupos de ex-rebeldes para acabar com a guerra civil durante a revolução dos anos 1980.

Na noite de sábado (12), a opositora Tamara Dávila, da Unidade Nacional Azul e Branca (UNAB), também foi detida em sua casa para ser investigada por "praticar atos que comprometem a independência, a soberania", informou a polícia.

Pré-candidatos à presidência

Pelo menos uma dúzia de líderes da dissidência, incluindo quatro importantes pré-candidatos à presidência, foram presos pela polícia desde 2 de junho a pedido do governo do presidente Daniel Ortega. 

A primeira detenção foi de Cristiana Chamorro, filha da ex-presidente Violeta Barrios Chamorro (1990-1997), acusada de lavagem de dinheiro através de uma fundação que promove a liberdade de imprensa. Cristiana Chamorro, de 67 anos, é considerada como uma adversária importante contra Ortega nas eleições de novembro. 

Outros três possíveis candidatos à presidência também foram detidos: Felix Maradiaga, que apoiou das grandes manifestações antigoverno de 2018, Juan Sebastian Chamorro Garcia e Arturo Cruz.

No Twitter, a subsecretária interina do escritório de Assuntos do Hemisfério Ocidental dos Estados Unidos, Julie Chung, qualificou as prisões como "arbitrárias". Segundo ela, os países da Organização de Estados Americanos (OEA), precisam enviar "um sinal claro" ao governo de Ortega durante a reunião de crise que será realizada na terça-feira (15) para abordar a crise na Nicarágua. 

(Com informações da AFP