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Diretora do documentário "Rio de Vozes" traz à tona a luta dos moradores às margens do São Francisco

14/06/2021 14h05

A documentarista brasileira Andrea Santana apresentou no festival Cinélatino, no último fim de semana, "Rio de Vozes", o quinto filme que produz com o diretor francês Jean-Pierre Duret. Durante o evento, em Toulouse, ela conversou com a RFI sobre esse trabalho, que dá visibilidade aos "esquecidos do semiárido brasileiro".

Daniella Franco, enviada especial da RFI a Toulouse

"Rio de Vozes" retrata o cotidiano de brasileiros que vivem às margens do Rio São Francisco, no Sertão Nordestino. Durante quatro meses, Andrea e Jean-Pierre conviveram e filmaram os personagens que encontraram em várias cidades desta região do semiárido do Brasil, dando voz a pessoas "raramente ouvidas, esquecidas e praticamente invisíveis na nossa sociedade atual".

A documentarista afirma que o objetivo do trabalho é colocar em evidência a beleza interior e a força desses indivíduos. "São pessoas que lutam diariamente para viver de forma digna no lugar que, acima de tudo, elas amam. O Rio São Francisco é a vida deles, é como uma mãe. É o rio que dá a água que eles bebem, os peixes que eles comem, que molha as terras onde cultivam o que precisam para viver. Eles sabem que se perderem o rio, vão perder tudo", destaca Andrea.

Apesar das dificuldades enfrentadas, os personagens se mostram esperançosos, sempre bem-humorados, orgulhosos de suas origens e, sobretudo, combativos. Eles entram facilmente no jogo do "cinema de observação", são seguidos e retratados em cenas da vida cotidiana, sem interagir diretamente com os realizadores. Nas conversas, falam com uma naturalidade impressionante da paixão pelo rio, dos sonhos e das lutas.   

"Eles têm uma forma de reflexão muito inteligente e lúcida de quem são, da vida que têm e do mundo. Por isso, a gente também quer quebrar um pouco essa ideia da pobreza como algo redutivo", explica Andrea.

Teaser Rio de Vozes from BERNARD ATTAL on Vimeo.

Poesia e política

O filme vem conquistando a crítica francesa pela poética fotografia - as belas imagens do rio, as paisagens bucólicas, a arquitetura das pequenas cidades que parecem ter estacionado no tempo ­- além dos personagens cativantes com quem Andrea e Jean-Pierre conviveram durante os quatro meses de filmagens. Apesar da ingenuidade e da resiliência com a qual encaram a vida, eles também têm emitem uma forte mensagem política.  

"A forma de resistência dessas comunidades diz respeito a todos nós. Porque se tudo isso desaparecer, o rio e todas essas culturas, somos todos nós que vamos ficar fragilizados. Então, o que a gente espera é que o público possa refletir sobre porque estamos deixando tudo isso se acabar. É um filme político porque não deixa de ser uma forma de alerta", diz Andrea.

Para a cineasta, é responsabilidade de todos proteger e valorizar essa população. "Eu, particularmente, não vejo outra solução para o Brasil se não for através da consideração da cultura da nossa gente e do respeito a essas pessoas. A gente vem de uma história de injustiça e extermínios que a gente nunca julgou, nem puniu ninguém. E a história nem é contada como deveria. Então, se nada for feito, a gente nunca vai conseguir avançar como sociedade", conclui.