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Eleições regionais na França medem temperatura para corrida presidencial em 2022

18/06/2021 17h24

Com o fantasma da extrema direita de Marine Le Pen rondando muito perto, os eleitores franceses vão às urnas neste primeiro turno das eleições regionais em 20 de junho de 2021. A menos de um ano da eleição presidencial na França, o voto nas regiões são de particular importância. As apostas políticas pesam bastante neste pleito, enquanto as regiões tentam impor seus candidatos através de seu poder político e financeiro.

Há apenas seis anos, o Partido Socialista (PS), então no poder na França, conseguiu manter seis regiões durante as eleições regionais, considerado um bom resultado. Mas isso era outra época, e a "Macronia" ("Macronie", em francês), como é chamada na França a legião de apoiadores do presidente francês Emmanuel Macron, ainda não existia. O projeto presidencial estava apenas germinando na cabeça dos fundadores do partido A República em Marcha (LREM).

Desde então, a situação virou totalmente de cabeça para baixo. O PS entrou em colapso e o partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), de Marine Le Pen, pode sonhar em conquistar uma região pela primeira vez. Assustados pelo crescimento do RN, diversos ministros do presidente francês lançaram-se um após o outro na batalha pelas regiões, tal é a importância destas eleições na França. E pelo menos um candidato destas eleições regionais já expressou sua ambição de concorrer ao Palácio do Eliseu em 2022. 

Na região parisiense, os principais temas em debate nesta campanha são o transporte gratuito, o futuro do anel viário de Paris, a questão do acesso à moradia, a recuperação econômica regional e questões de segurança. De acordo com uma pesquisa Ifop Fiducial para LCI e Le Figaro, publicada em 13 de junho, a candidata Valérie Pécresse (ex-Os Republicanos, de direita, que tenta se aproximar dos centristas do Modem) ficaria em primeiro lugar no primeiro turno, com 34% dos votos, à frente do candidato de extrema direita, Jordan Bardella (17%), e do representante da maioria presidencial, Laurent Saint-Martin (13%).

A multiplicidade de candidatos de esquerda acaba penalizando suas candidaturas: a socialista Audrey Pulvar, e Clémentine Autain, do partido França Insubmissa, teriam cada uma 11% dos votos, e o ecologista Julien Bayou, 10%. No segundo turno, a liderança de Valérie Pécresse deve se consolidar com 37 a 38% dos votos. A oposição de esquerda, independentemente de seu líder, ficaria em segundo lugar à frente da extrema direita do RN, obtendo entre 27 a 29% dos votos. 

Oportunista, Marine Le Pen quer atrair votos da direita

Marine Le Pen pediu nesta sexta-feira (18) que as lideranças e eleitores do partido de direita Os Republicanos (Les Républicains, em francês, na sigla LR) "tirem as consequências" das divisões dentro do seu partido e "apoiem" a Reunião Nacional, de extrema direita, nas eleições regionais e departamentais no domingo.

"Peço a todas as lideranças, ativistas e eleitores do LR que tirem as consequências dessa ruptura interna e nos apoiem nessas eleições", declarou a presidente do RN em comunicado de imprensa, enfatizando "o âmbito nacional desta eleição" a menos de um ano da eleição presidencial.

"Não devemos ignorar que a nossa luta pela França é nosso objetivo comum, que as vitórias que iremos registar serão passos dados no caminho que conduz à vitória nacional", acrescentou a candidata ao Eliseu.

Para Marine Le Pen, o partido de direita, presidido por Christian Jacob, é "como a jangada da medusa, onde sobreviventes famintos se devoram", disse, numa alusão ao famoso quadro do Romantismo francês. "Na região Paca, eles perderam o norte", sublinhou Le Pen, em alusão ao projeto de acordo, anunciado pelo premiê Jean Castex, entre o LREM e Os Republicanos (LR).

Dirigindo-se aos "soberanistas LR, bonapartistas ou gaulistas autênticos", Le Pen disse que  "a única lealdade que deveria guiá-los são suas idéias".

A líder da extrema direita, que acolheu candidatos de "abertura" de fora do RN em suas listas, também apelou aos eleitores "de onde quer que viessem" por um voto "útil" e de "oposição" a Emmanuel Macron", segundo ela "uma oposição certamente construtiva mas sem qualquer ambigüidade".

Uma "democracia da abstenção"

Se há um resultado que parece já definido para o primeiro turno domingo das eleições regionais e departamentais na França, é o baixo nível de participação que mais uma vez fará dos mais de 27 milhões de abstencionistas anunciados o primeiro partido da França. Por outro lado, é um pouco mais difícil prever que forças políticas poderiam se beneficiar dessa abstenção eleitoralmente.

As antecipações das pesquisas convergem em todo caso para a tendência: "Devemos ter uma abstenção absolutamente histórica", resumiu o pesquisador Brice Teinturier (Ipsos) no canal de TV France 2.

60% dos eleitores registrados pretendem se abster no primeiro turno das eleições regionais em 20 de junho, de acordo com uma pesquisa Ifop para a Rádio Sud realizada em 15 e 16 de junho.

 Outra pesquisa da Opinionway para Les Echos realizada de 9 a 14 de junho prevê uma abstenção de 62%, enquanto uma pesquisa da Elabe para a BFMTV conduzida em 15 e 16 de junho prevê uma faixa de 59% a 64%.

Isso constituiria um nível recorde de abstenção para um primeiro turno das eleições regionais na França, bem acima dos 50,09% da votação de 2015, e especialmente do pico anterior de 2010 (53,67%).

Esta nova recusa eleitoral confirmaria uma forte tendência das últimas décadas que o mandato de Macron não conseguiu reverter, com mais da metade dos eleitores evitando as urnas desde a sua eleição para cada pelito, das legislativas de 2017 às eleições municipais de 2020, com a notável exceção das eleições europeias em 2019 (50,12% de participação).

(Com AFP)