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Cai ministro brasileiro envolvido em "tráfico de madeira", destaca jornal francês

25/06/2021 04h05

O jornal Le Monde desta sexta-feira (25) traz duas reportagens sobre o Brasil. A correspondente Sarah Cozzolino aborda a demissão do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, "envolvido em tráfico de madeira", conforme cita o título da reportagem. 

Salles é descrito como "um dos últimos ministros polêmicos" de Jair Bolsonaro. Ele estava à frente da pasta desde 2019 e anunciou sua demissão na quarta-feira (23). Sua saída já era esperada, segundo o Le Monde, desde que seu nome apareceu "num caso de exportação ilegal de madeira da Amazônia, em maio". 

Na véspera de sua demissão, Ricardo Salles havia recebido cumprimentos do presidente. "Você faz parte dessa história. O casamento entre a agricultura e o meio ambiente é quase perfeito", declarou Bolsonaro.

Salles alegou motivos pessoais para deixar o cargo, diz o texto, destacando que havia seguido todas as orientações do governo durante seu mandato, ou seja, " o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental". 

Porém, o advogado, de 46 anos, é o primeiro ministro do Meio Ambiente acusado de crimes ambientais. Em 19 de maio, a Polícia Federal fez buscas em seu escritório a pedido do juiz do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. O ex-ministro e dez funcionários são acusados de terem "favorecido uma rede criminal transnacional de contrabando de madeira", de acordo com a Justiça. 

Em junho, ele se tornou alvo de uma nova investigação por corte de madeira ilegal da Amazônia. 

Descrito pelo diário francês como "integrante da ala ideológica do governo de extrema direita", Salles será substituído por Joaquim Álvaro Pereira Leite, "antigo conselheiro da sociedade ruralista brasileira", explica a reportagem.

Sucessor faz parte do lobby

"A queda de Salles não significa o fim do combate: seu sucessor faz parte do lobby do agronegócio e deste governo anti-meio ambiente que continuará a fazer estragos", afirma o deputado Alessandro Molon, do Partido Socialista, chefe da oposição na Câmara dos Deputados e citado por Le Monde.  

Sua demissão "não quer dizer que o goveno Bolsonaro vá colocar fim aos seus projetos nocivos aos meio ambiente", reagiu o Greenpeace. "Salles é um sintoma, não a doença", completou a ONG Observatório do Clima.

"Durante dois anos e meio, Salles fragilizou os mecanismos de proteção das florestas", continua a reportagem, para quem sua gestão "foi marcada por tentativas de aliviar regras ambientais". O texto conclui dizendo que Salles contribuiu para o isolamento do Brasil na cena internacional. Apesar das promessas do governo de acabar com o corte ilegal de madeira até 2030, "a destruição continua", encerra o texto.