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Dois americanos cúmplices da fuga de Carlos Ghosn são condenados no Japão

19/07/2021 05h56

Os americanos Michael e Peter Taylor, pai e filho, foram condenados nesta segunda-feira (19), respectivamente, a dois anos e a um ano e oito meses de prisão em regime fechado por um tribunal de Tóquio. Eles foram julgados por terem ajudado Carlos Ghosn, ex-CEO da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, a fugir do Japão em 29 de dezembro de 2019. 

Em junho, os réus admitiram à Justiça japonesa que colaboraram na fuga espetacular de Ghosn, uma operação que ridicularizou as autoridades japonesas. Michael, 60 anos, ex-militar das forças especiais, e Peter, 28 anos, tinham sido presos em maio do ano passado nos Estados Unidos e extraditados em março deste ano para o Japão, a fim de enfrentar o processo.

Durante as audiências, pai e filho disseram estar arrependidos de seus atos e que não tinham agido por ganância. A defesa chegou a pedir um abrandamento da pena, argumentando que Ghosn foi o principal instigador de toda a operação, e que Taylor já havia passado dez meses em prisão preventiva nos EUA antes da extradição.

Ao justificar a condenação, o juiz Hideo Nirei enfatizou que os americanos cometeram um "crime grave", porque agora a chance de Ghosn ser julgado um dia no Japão se tornou muito remota. O ex-CEO vive no Líbano, país que não tem tratado de extradição com o Japão.

"Os réus realizaram uma fuga para o exterior sem precedentes" e desempenharam um papel ativo nesta operação, continuou o juiz. O magistrado também considerou que os dois cúmplices foram motivados por dinheiro, e não porque Michael Taylor tenha, por meio de sua esposa, uma relação de parentesco distante com a família de Ghosn no Líbano.

Pai e filho receberam cerca de US$ 860 mil de familiares de Ghosn para preparar e financiar a fuga. Uma parte do dinheiro foi usada para alugar os jatos particulares. Michael e Peter Taylor receberam o equivalente a US$ 500 mil em bitcoin para pagar seus honorários advocatícios, de acordo com os investigadores.

Operação orquestrada

Ghosn havia sido preso no final de 2018 no Japão, onde era investigado por crime fiscal. No momento da fuga, o executivo franco-brasileiro-libanês estava em liberdade condicional e aguardava julgamento por crime fiscal e outras irregularidades financeiras, das quais se diz até hoje inocente. Com ajuda dos dois americanos, o ex-CEO da Renault conseguiu se esconder em uma caixa de equipamento de som e embarcar em um avião privado com destino à Turquia. Em seguida, ele foi para o Líbano, onde reside até hoje.

Outro suspeito de envolvimento na fuga, o libanês, George-Antoine Zayek, especialista em operações especiais de Beirute, está foragido. 

Operação orquestrada

A fuga de Ghosn do Japão é considerada como uma das melhores já organizadas da história recente. Foi Carole, esposa de Ghosn, que fez o primeiro contato com Michael Taylor, seis meses antes da fuga do executivo franco-líbano-brasileiro de Tóquio. Dois dias antes de deixar o país, ele deixou sua casa na capital japonesa e viajou de trem para Osaka, usando máscara, chapéu e óculos escuros para não ser reconhecido. Ghosn estava acompanhado de Michael Taylor e George-Antoine Zayek, identificados depois nas imagens das câmeras de segurança.

Os três homens se hospedaram em um hotel perto do aeroporto internacional de Kansai, na região de Osaka. Identificando-se como músicos, os dois cúmplices embarcaram em um jato particular, junto com equipamentos de som, sem que a segurança suspeitasse. Os investigadores acreditam que Ghosn estava dentro de uma grande caixa com material musical. Desta forma, eles conseguiram chegar até Istambul, na Turquia, de onde Ghosn pegou outro avião particular até Beirute.

Peter Taylor viajou dos Estados Unidos para Tóquio um pouco antes da fuga, mas já havia se encontrado com Ghosn diversas vezes nos meses anteriores. Depois da operação na capital japonesa, ele embarcou em um avião para a China, antes de voltar aos EUA. 

No último mês de fevereiro, três turcos também foram condenados por um tribunal de Istambul por envolvimento no caso, um responsável de uma companhia turca de locação de jatos privados e dois pilotos.

Ajuda na fuga de um "criminoso"

Michael e Peter Taylor se tornaram réus no Japão porque que o código penal do país pune os cúmplices envolvidos na fuga de criminosos. Nos Estados Unidos, os advogados de pai e filho chegaram a entrar com um recurso na Suprema Corte americana na tentativa de impedir a extradição deles para o Japão.

A defesa alegou que, no momento da fuga, Ghosn não era considerado um criminoso. Também disseram que os dois suspeitos poderiam enfrentar, em Tóquio, longos interrogatórios comparados à tortura. Os dois americanos nunca negaram a implicação na fuga de Ghosn. Desde que foram extraditados ao Japão, ambos cooperam com as autoridades japonesas. 

(Com informações da AFP)