Haiti: às vésperas da formação de novo governo, população diverge sobre intervenção internacional
O Haiti se prepara para a formação de um novo governo, liderado por Ariel Henry como primeiro-ministro. A situação no país segue instável desde o assassinato do presidente Jovenel Moise e a população está dividida sobre uma possível intervenção internacional, apesar da violência em alta e da falta de controle das forças de ordem locais.
Com agências e Gina Lafontant, correspondente da RFI no Haiti
Segundo uma fonte próxima do Executivo, Ariel Henry, que havia sido indicado por Moise pouco antes de seu assassinato, deve assumir o cargo nesta terça-feira (20). O primeiro-ministro em exercício, Claude Joseph, voltará a ocupar o cargo de ministro das Relações Exteriores no novo governo, que não terá um presidente e terá a tarefa de organizar novas eleições "o mais rápido possível", disse essa fonte às agências de notícias.
Moise teria escolhido Henry para substituir Joseph como primeiro-ministro nos dias que antecederam seu assassinato a tiros em sua residência em Porto Príncipe, na madrugada de 7 de julho. O chefe de Estado governava o país mais pobre das Américas por decreto, depois que as eleições legislativas de 2018 foram adiadas devido a disputas internas.
Além das eleições presidenciais, parlamentares e locais, o Haiti deve realizar um referendo constitucional em setembro, depois que a consulta foi adiada duas vezes pela pandemia do coronavírus.
Enquanto isso, a questão da segurança no país continua frágil. Gangues controlam a parte oriental do Haiti e a violência aumenta, inclusive na capital. "Ninguém consegue ir a Porto Príncipe. As gangues impõem suas leis mesmo com a polícia por lá", relata o pastor Frantz Dupré.
Forças internacionais para ajudar, e não ocupar o país
Diante da impotência da Polícia Nacional do Haiti (PNH), boa parte da população pede uma intervenção de forças internacionais. No entanto, essa opção não agrada a todos.
"Se um outro país quiser nos ajudar a encontrar uma solução, eu não me oponho", comentou Jacques Jacquet, estudante em Ciências da Educação. "Mas não queremos uma força de ocupação", pondera.
"Temos problemas de segurança, a polícia nacional não consegue dar conta e a sociedade haitiana está doente. Mesmo assim, ainda temos reservas em nosso país. Então o desembarque de forças estrangeiras não seria benéfico para o Haiti", completa o professor Franck Junior.
A vizinha República Dominicana incita uma mobilização vinda do exterior. "Reiteramos nosso pedido para que a comunidade internacional contribua o máximo possível por uma clima favorável ao diálogo", declarou o ministério dominicano das Relações Exteriores em nota nesse fim de semana. No entanto, o país também afirma não querer se impor na crise do vizinho, negando qualquer tentativa de intervenção para uma "solução dominicana".
A República Dominicana compartilha uma fronteira de 380km com o Haiti, pela qual muitos haitianos passam ilegalmente em busca de melhores condições de vida.
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