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Passaporte sanitário: uma boa medida para a saúde financeira?

26/07/2021 16h04

Após muita polêmica, manifestações e uma verdadeira maratona parlamentar, a adoção do passaporte sanitário na França foi aprovada neste domingo (25). Assim que for ratificada, a lei exigirá que cada um seja vacinado ou tenha um teste negativo para Covid-19 para entrar em locais de lazer, restaurantes ou bares. Mas os efeitos da medida sanitária também podem acabar sendo sentidos pela economia.

Por Pauline Gleize

O passaporte sanitário é apresentado como uma aposta em um retorno às aulas mais seguro (que acontece em setembro na França), e a esperança de não ter que estabelecer novos confinamentos, o que seria desferir um novo golpe brutal na economia, ainda que a adoção do passe signifique penalizar a atividade turística e o setor de lazer, em plenas férias de verão na Europa, período-chave para esses serviços. A decisão pode, então, levar a impactos controversos.

Estruturas maiores, como parques de diversões, estão tentando se adaptar. O parque temático Puy-du-Fou, na região de Pays de la Loire, no oeste da França, se organizou com urgência para oferecer testes aos visitantes, assim como o Parque Asterix, ao norte da capital. 

Mas o desafio logístico e a aceitação de um teste para os clientes certamente não serão os mesmos para todas as atividades. Os cinemas que já implementaram a obrigatoriedade do passaporte de saúde revelam seus efeitos negativos. Pelo menos nos lucros. No dia em que entrou em vigor para os locais de cultura e lazer, as vendas de ingressos caíram 70% em relação ao dia anterior. A redução representa um déficit de € 3 a € 4 milhões no faturamento só daquele dia. A Federação Nacional das Editoras de Cinema, que não se opõe ao passaporte sanitário, solicitou ajuda ao governo.

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Já o impacto para restaurantes, bares e hotéis é mais incerto. O setor também é diversificado. Alguns consideram essa situação menos prejudicial do que voltar a fechar as portas ou retornar às restrições de público. O que não evita preocupações. Um representante do GNI, um conglomerado da indústria hoteleira e de restaurantes, estima que a medida pode levar a uma perda de 30% a 50% do faturamento, dependendo da região.

Obviamente, isso dependerá também dos segmentos de negócios de cada um. Alguns profissionais são menos pessimistas. A plataforma de hospedagens Weekendesk registrou um pico de cancelamentos e modificações após o discurso de Emmanuel Macron em meados de julho, mas retomou rapidamente a demanda e as reservas começaram a subir novamente. No entanto, o comportamento dos clientes está mudando. Com as incertezas em tempos de pandemia, agora são as ofertas de última hora as mais procuradas no site.

O fato é que um impacto social também pode ser esperado com o passaporte sanitário. Não haverá mais demissão para quem não respeitar a obrigação de vacinação para algumas profissão. Por outro lado, em uma comissão mista, deputados e senadores concordaram com uma sanção: a suspensão dos contratos de trabalho e, por consequência, dos salários. Esta disposição, como todas as outras, ainda deve passar pelo filtro do Conselho Constitucional.

"Green pass" anunciado na Itália

Mas o passe de saúde não é nenhum "croissant", quer dizer, está longe de ser considerado uma especialidade francesa, já sendo aplicado - ou está em discussão - em outras partes do mundo, e de diversas maneiras.

O assunto também está no centro dos debates na Itália, por exemplo. O governo italiano planeja colocar o que eles chamam de "green pass" (passaporte verde) em vigor a partir de 6 de agosto. A Confesercenti, que reúne PMEs dos setores de comércio, turismo e serviços, prefere o passe do que os fechamentos, mas alerta que isso pode representar perdas de € 1,5 bilhão em faturamento, sendo € 300 milhões apenas para bares e restaurantes.

O efeito sobre a economia italiana pode ser bem diferente em comparação com a da França. Roma deverá emitir "passes verdes" mesmo para aqueles que só receberam uma dose da vacina. Ao mesmo tempo, o governo quer reduzir o preço dos testes antigênicos até setembro. Mas, sem a vacina, a conta do restaurante ainda poderia ser "bem mais salgada".

Mais ao norte, a Dinamarca introduziu seu "coronapass". No entanto, é difícil fazer projeções a partir deste exemplo. Copenhague o introduziu quando bares, restaurantes e outros locais sociais haviam reaberto.