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EUA: comissão de investigação começa a ouvir policiais sobre ataque ao Capitólio

27/07/2021 11h02

A comissão de investigação da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos dá início, nesta terça-feira (27), às audiências sobre a invasão do Capitólio, no último 6 de janeiro em Washington. A questão continua suscitando profundas divisões entre democratas e republicanos. 

Com informações da correspondente da RFI em Nova York, Loubna Anaki

Para o primeiro dia de trabalho da comissão de investigação, os depoimentos de quatro membros da polícia do Capitólio serão ouvidos. Entre eles, Daniel Hodges e Michael Fanone, violentamente agredidos por manifestantes que invadiram a sede do legislativo americano no último 6 de janeiro, incentivados pelo então presidente americano, Donald Trump.

Em um primeiro momento, não há expectativas de novas revelações sobre o incidente nesta terça-feira. No entanto, espera-se que os policiais exponham as violências das quais foram alvo. Para o congressista democrata Adam Schiff, os testemunhos "são importantes em um momento em que alguns tentam revisar a história e apresentar o 6 de janeiro como uma simples visita de turistas". 

"Essas audiências são apenas um começo", promete o democrata Bennie Thompson em uma coluna no jornal americano Washington Post. "Faremos tudo o que for necessário para compreender o que aconteceu, porque e como", reiterou. 

Dois republicanos na comissão

Para inaugurar os trabalhos da comissão, a congressista republicana Liz Cheney foi escolhida. Ela e Adam Kinzinger são os únicos conservadores que aceitaram participar das investigações. A formação do grupo responsável por esclarecer a invasão do Capitólio deu margem à tensas altercações entre a chefe da maioria democrata da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, e o líder dos republicanos, Kevin McCarthy. 

McCarthy, aliás, não poupou críticas contra Cheney e Kinzinger, chamando-os de "os republicanos de Pelosi", acusações consideradas como "infantis" pelos dois congressistas conservadores da comissão. "Esses republicanos têm um perfil particular porque romperam com o partido. Desde o 6 de janeiro, eles questionaram Trump e fazem parte da dezena de republicanos na Câmara a terem votado para destituir Trump. Não foi suficiente para o impeachment, mas simbolicamente, foi um voto muito forte", avalia Françoise Coste, historiadora e especialista em política interior americana da Universidade de Toulouse, na França.

Para ela, a comissão não será nem independente, nem bipartidária porque ela é vista como "inaceitável" pelos políticos conservadores. "Mas há uma razão particular pela qual os republicanos não querem dar nenhuma chance a esses trabalhos. Eles sabem muito bem que qualquer comissão de investigação honesta irá apontar a responsabilidade de Trump", reitera Coste. 

O ex-presidente, que continua sendo muito popular entre uma parcela da população americana, soube dar a volta por cima depois de conseguir escapar da acusação de "incitação à insurreição", em fevereiro. Grande pilar do Partido Republicano, o magnata classifica a comissão como "altamente imparcial". Em um comunicado divulgado na segunda-feira (26), sem apresentar explicações ou provas, ele chega a apontar Pelosi como uma das responsáveis pela invasão do Capitólio. "Nancy vai investigar a si própria?", pergunta. 

Mais de 550 presos

Os democratas, no entanto, seguem convencidos de que os trabalhos poderão esclarecer as falhas de segurança que permitiram que os partidários do ex-presidente invadissem o Capitólio, chocando boa parte do país. A comissão tem o poder de reunir documentos e convocar testemunhos, o que assusta os políticos conservadores. As investigações judiciárias em andamento já permitiram deter mais de 550 pessoas relacionadas ao incidente. 

Para Françoise Coste, a iniciativa é importante não pelas conclusões políticas que serão certamente rejeitadas pelos republicanos, mas para uma compreensão maior sobre os riscos de um golpe de Estado que poderia ter ocorrido. "É necessário que a população se dê conta sobre o fato de o país ter se aproximado muito de uma catástrofe e que isso foi, queira-se ou não, de responsabilidade de Trump ou de outras pessoas", conclui.