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França: Macron processa proprietário de outdoors por retratá-lo como Hitler

29/07/2021 15h37

O presidente francês, Emmanuel Macron, está processando um proprietário de outdoors que o representou como Adolf Hitler para protestar contra as medidas sanitárias de combate à pandemia de Covid-19. Michel-Ange Flori, que possui cerca de 400 outdoors na região sul do Var, reagiu no Twitter nesta quarta-feira (28): "Acabo de saber que serei ouvido na delegacia de Toulon após uma denúncia do presidente da República".

Por Jan van der Made

"Então em 'macronia' você pode fazer piada da bunda do profeta, isso é sátira, mas fazer o presidente parecer um ditador é uma blasfêmia", acrescentou Flori em seu post. O ofensivo pôster retrata Macron com o uniforme do líder nazista Hitler, com um pequeno bigode, uma mecha na testa e a sigla do partido presidencial LREM transformada em suástica. Uma mensagem escrita diz: "Obedeça, seja vacinado."

O cartaz foi exibido nos últimos dias em dois outdoors medindo quatro por três metros, localizados em uma estrada perto da entrada de Toulon. Sobre um deles alguém escreveu: "Vergonha".

Pessoas contrárias às restrições sanitárias na França comparam o país a uma ditadura, protestam contra a obrigatoriedade do passaporte de saúde, que devem ser apresentados para acesso a locais de lazer e cultura, e que em breve serão estendidos a bares, restaurantes e transportes públicos de longa distância. O ministro dos Assuntos Europeus, Clément Beaune, condenou a ação, afirmando: "Gostaria que houvesse muitas ditaduras como a França em todo o mundo."

Em manifestações recentes, muitos participantes ostentavam estrelas amarelas, como as usadas durante o nazismo para identificar e discriminar judeus. O fato indignou a comunidade judaica.

Formas de expressão satíricas

Nesta terça-feira (27), a promotoria de Toulon abriu uma investigação por insulto público causado pelo outdoor. A defesa de Michel-Ange Flori pode se beneficiar de uma decisão de 2013 do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que revogou o crime de insultar o presidente da República.

A decisão de 2013, caso Eon contra a França, dizia respeito a uma reclamação do Estado francês contra Hervé Eon, que agitou um pequeno cartaz com os dizeres "Casse toi pov'con" ("Cai fora, seu pobre idiota ") quando membros do partido do presidente, Nicolas Sarkozy à época, estavam prestes a passar.

O tribunal concluiu que perseguir Eon provavelmente teria um péssimo efeito sobre as formas de expressão satíricas relacionadas a questões atuais, acrescentando ainda que tais formas de expressão podem desempenhar um papel importante na discussão aberta de assuntos de interesse público. "É uma característica indispensável a uma sociedade democrática", revelaria ainda a decisão.

Mas, por outro lado, a mesma decisão afirmava que o chefe de Estado estaria protegido de insultos e difamação pública como qualquer cidadão comum.

Flori se defendeu dizendo: "Você vê Hitler, mas pode ver Stalin, ou eu vejo Charlie Chaplin em O Ditador. "Esses cartazes visam questionar essa democracia em que as decisões são tomadas sem discussão com um conselho de Saúde", explicou.

Apuros jurídicos

Não é a primeira vez que seus pôsteres, que ele usa com frequência para comentar sobre questões políticas ou sociais, atraem críticas ou o colocam em apuros jurídicos. Em uma entrevista de 2019 ao site de think tank Mr. Mondialisation, Flori descreve como ele "tuíta" suas críticas satíricas sobre políticos e pessoas em posições de poder por meio de seus outdoors.

Outras "vítimas" de Flori incluem a chefe do FMI, Christine Lagarde, o ex-ministro do Interior Christophe Castaner e a polícia francesa. Ele criou seu primeiro outdoor em 1999, debochando do então prefeito da Córsega, Bernard Bonnet, o que o levou a uma detenção policial de 36 horas.

A rápida reação do Le Monde

Não é a primeira vez que Macron é comparado ao ditador alemão. Em 2018, o jornal francês Le Monde foi criticado por publicar uma foto do presidente francês, na capa de sua revista semanal M, em que ele se pareceria com Hitler. O jornal rapidamente se pronunciou, insistindo que não tinha a intenção de comparar Macron ao líder nazista, e se desculpou com seus leitores.

(Com informações de agências)