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Civis afegãos pegam em armas contra o Talibã que avança sem controle no país

30/07/2021 15h32

Os talibãs estão fora de controle no Afeganistão, e invadem distritos, um após o outro. E a partir de 31 de agosto não haverá mais tropas estrangeiras no país. Diante do fracasso das forças de segurança locais, a população pega em armas em diversas províncias, apoiando o exército e a polícia em sua luta contra o Talibã.

Por Sonia Ghezali, correspondente da RFI em Cabul

Os combates estão se multiplicando por todo o Afeganistão. Desde maio, o Talibã intensificou suas ofensivas contra as forças do governo, se aproveitando do fato de que as tropas estrangeiras começaram sua retirada definitiva do país.

Diante da derrota das forças afegãs, milhares de cidadãos estão voluntariamente pegando em armas para lutar contra o Talibã.

No norte de Cabul, uma nova milícia de autodefesa foi criada há algumas semanas. A RFI conversou com Yasin, um motorista afegão de 40 anos de uma organização não governamental, que foi nomeado para liderar os homens locais na batalha.

Yasin conta que todos os dias se recrutam novos voluntários. "Estaremos prontos para o momento em que o governo e as forças de segurança nos pedirem para lutar ao lado deles. Não vamos decepcionar. Estamos prontos para nos defender, nossa honra, nossa terra e nossa nação", explica, com orgulho.

Postos de combate da era soviética

Outro entrevistado, Ali, tem apenas 16 anos. Ele diz que está pronto para pegar em armas. Ele escuta com atenção Yasin, que passou três anos no exército, há cerca de 30 anos. "Os antigos postos de combate serão reativados?", pergunta ao veterano.

"Queremos reativar os postos de controle que foram estabelecidos durante a guerra civil e durante o tempo da invasão russa. Enviaremos pessoas bem treinadas para esses postos. Todos serão treinados para que não tenham problemas durante os combates. Nós vamos te ensinar como usar armas", responde Yasin.

O Talibã já se encontra nos arredores de Cabul. Muitos temem que eles tentem tomar o poder pela força assim que as últimas tropas estrangeiras partirem, em 31 de agosto.

Yasin não quer que seu país seja governado por fundamentalistas religiosos, os mesmos que causaram estragos quando estavam no poder entre 1996 e 2001, antes da intervenção de uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.

Uma nova milícia armada no conflito?

"Qualquer pessoa pode lutar contra eles, jovem ou velho, mulher ou homem. Eles só precisam estar preparados para defender seu país contra esses estrangeiros. Daremos a eles armas legais, nunca ilegais. Todas essas armas estão registradas nas forças de segurança", explica o recrutador. Ele espera obter armas do governo por meio de seus contatos nas forças públicas para distribuí-las aos vizinhos.

Diante desse fenômeno, muitas vozes no país se levantaram para expressar sua preocupação sobre o que essas milícias de autodefesa possam vir a ser. Eles temem que se tornem um novo braço armado do conflito afegão.

Escritórios da ONU atacados por foguetes

Os escritórios das Nações Unidas foram atacados nesta sexta-feira (30) com um lançador de foguetes em Herat, esta grande cidade no oeste do Afeganistão, em torno da qual as forças do Talibã e do Afeganistão se enfrentam.

Os insurgentes, donos de vastas áreas rurais do país, também aumentaram nos últimos dias sua pressão sobre duas outras capitais de província no sul do Afeganistão: Kandahar, a segunda cidade do país, e Lashkar Gah.

O ataque "na entrada de um prédio claramente identificado como sendo das Nações Unidas" em Herat "foi realizado por elementos antigovernamentais", disse a Unama, a Missão da ONU no Afeganistão, em um comunicado, acrescentando que um policial que guardava o prédio foi morto e muitos outros ficaram feridos.

A entrada do complexo foi atacada por homens com lançadores de foguetes e armas, continuou a Unama, acrescentando que nenhum funcionário da ONU ficou ferido.

"Este ataque às Nações Unidas é deplorável e nós o condenamos nos termos mais veementes", disse Deborah Lyons, representante especial do secretário-geral da ONU no Afeganistão e chefe da Unama. "Quem fez este ataque deve ser identificado e responsabilizado", frisou.

 Ataques contra civis e edifícios da ONU são proibidos pelo direito internacional e podem ser considerados crimes de guerra, lembrou a Unama, que também prestou homenagem aos guardas afegãos que defenderam o complexo da ONU.

(Com informações da AFP)