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Interferências do Partido Comunista podem minar entrada de empresas chinesas na Bolsa de NY

02/08/2021 12h29

Com empresas chinesas almejando seu ingresso nas bolsas americanas, órgãos reguladores do mercado financeiro dos Estados Unidos e da China estão atentos a um novo empasse na já conturbada relação entre os dois países. 

Thiago de Aragão, analista político

O governo chinês vem aplicando multas e punições pesadas a empresas chinesas, incluindo diversas listadas na Bolsa de Nova York. Essas medidas acabam trazendo uma volatilidade inedesejada pela Security Exchange Committee (SEC), órgão fiscalizador que entende que uma nova classe de riscos pode afetar a performance da bolsa, trazendo mais riscos ao investidor. 

Por isso mesmo, a SEC tem buscado exigir de empresas chinesas o controle de uma série de possíveis riscos oriundos de suas relações com o governo chinês e com o Partido Comunista da China (PCC), antes que estas ingressem nas bolsas americanas. 

O grande problema para o governo chinês e para as empresas chinesas com ambição de ingressar na Bolsa de Nova York é que essa "categoria de riscos" pode incluir as possíveis interferências do PCC nas atividades empresariais. 

O simples fato de apontar a interferência do Partido Comunista Chinês como um fator de risco já gera uma situação de desconforto nas empresas chinesas, levando a uma profecia autorrealizável: em que apontando a possibilidade de interferência como um risco, já levaria o partido a interferir. 

Sabendo que isso traz um risco não só para as empresas chinesas que desejam estar listadas na Bolsa de Nova York, mas também para a credibilidade (já abalada) do próprio PCC com essas empresas, o órgão regulador chinês, o CSRC, o equivalente à Security Exchange Committee, se antecipou e se colocou à disposição da SEC para estabelecer um canal de comunicação. 

Problemas para as empresas

Mas essa movimentação do CSRC não deverá gerar o efeito esperado, já que a SEC deseja ouvir das empresas os potenciais - e reais - riscos, e não a explicação governamental sobre por que esses "riscos" não passam de ações corriqueiras dentro das leis vigentes na China. 

As empresas chinesas também deverão explicitar se receberam autorização do governo chinês para ingressar na Bolsa de Nova York, seguindo as regras estabelecidas pela instituição. 

Com isso, o Conselho de Supervisão de Companhias Públicas (PCAOB) deverá realizar auditorias em até três anos. Caso uma empresa listada não autorize a operação, esta será automaticamente removida da bolsa. 

Mas as auditorias se tornariam um problema para essas empresas, pois uma das grandes acusações do governo americano contra a China, de subsidiar empresas chinesas gerando concorrência desleal, poderia se concretizar.

Em resumo, a tendência é que, pelo menos por enquanto, empresas chinesas não estarão promovendo IPO's ("Initial Public Offering", ou "Oferta Pública Inicial" em português) na Bolsa de Nova York. Ou pelo menos até que se adequem às exigências americanas, ou, o que seria ainda mais improvável, EUA e China cheguem a um acordo.