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Ana Marcela Cunha é a primeira mulher brasileira a conquistar um ouro na natação

04/08/2021 05h39

Ana Marcela Cunha, dona de 11 medalhas em Campeonatos Mundiais, conquistou o ouro na maratona aquática dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, nesta quarta-feira (4) na capital japonesa. A baiana, que nadava nas águas da Baía de Todos os Santos, em Salvador, se manteve nas primeiras posições desde a largada e guardou fôlego para um sprint final que lhe garantiu o primeiro lugar.

Ana Marcela, de 29 anos e que disputava sua terceira Olimpíada, nadou os 10 km em 1h59min30s08 no Odaiba Marine Park, na baia de Tóquio.

Completam o pódio a holandesa Sharon van Rouwendaal (1:59:31.7), campeão olímpica no Rio-2016, e a australiana Kareena Lee (1:59:32.5).

A medalha de Ana Marcela foi a segunda do Brasil em provas de maratona aquática em Jogos Olímpicos. No Rio, Poliana Okimoto conquistou o bronze.

"Esta medalha de ouro representa muito para mim", afirmou a atleta nascida em Salvador. "Em 2008 não tive nenhuma chance de ganhar, em 2012 não me classifiquei e no Rio não respondi à prova como meu treinador e eu esperávamos", disse a campeã olímpica.

"Viemos aqui com a intenção de ganhar esta medalha e há 10 dias eu falei para o meu treinador que levar o ouro nesta prova seria muito difícil para minhas rivais porque eu estava muito motivada e preparada", completou Ana Marcela, que venceu as provas de 5 km e de 25 km da maratona aquática no Mundial de Esportes Aquáticos de 2019.

Calor e frieza em águas abertas

"Temos que ser frios e tranquilos como os europeus", afirmou. "Somos latinos, somos quentes e emocionais, por isso tinha que ser fria mentalmente nesta prova e concentrada em que tinha que vencer. Sabia que estava preparada", completou.

Com a temperatura da água a 29 graus às 6h30 locais, horário de início da prova, a principal dificuldade consistia em enfrentar o calor tropical em uma prova de resistência.

Pontos de hidratação foram disponibilizados em diferentes momentos da prova para ajudar as atletas, que bebiam de suas garrafas nadando de costas, antes de descartá-las e retomar a competição em questão de segundos.

Com o triunfo de Ana Marcela Cunha, o Brasil chegou a quatro medalhas de ouro nos Jogos de Tóquio-2020, para um total de 15 pódios até o momento.

Além da maratona aquática, o país levou o ouro com o surfista Ítalo Ferreira, a ginasta Rebeca Andrade na prova do salto e as velejadoras da classe 49er FX, Martine Grael e Kahena Kunze.

O país soma ainda três de prata e oito de bronze. Além disso, o Brasil tem outras três medalhas asseguradas (duas no boxe e uma no futebol masculino).

Desta maneira, o Brasil está próximo de superar a marca de 19 medalhas conquistadas há cinco anos, quando foi a sede dos Jogos Olímpicos Rio-2016.

Carreira

Um dos maiores nomes da modalidade na última década, Ana Marcela começou a carreira olímpica em Pequim-2008, aos 16 anos, quando conseguiu um surpreendente quinto lugar. Em 2012, porém, não conseguiu classificação para os Jogos de Londres. Já no Rio, onde era vista como uma das grandes favoritas ao ouro, terminou na 10ª colocação.

Ana Marcela Cunha não nadou nas águas londrinas. Em Pequim e no Rio de Janeiro, suas braçadas foram menos potentes que as das adversárias. Mas, no mar de Tóquio, a nadadora baiana, uma das mais consagradas atletas da maratona aquática, finalmente agarrou o ouro olímpico.

Em Pequim-2008, aos 16 anos, ficou perto do pódio (5º) na estreia olímpica da maratona aquática. Em Londres-2012, não conseguiu a classificação e, no Rio-2016, teve que se contentar com o 10º lugar após perder uma reposição líquida.

A decepcionante performance olímpica daquela que é considerada por muitos a maior atletas da maratona aquática da história teve um final feliz nesta quarta-feira (4), após os 10 km da prova disputada no Parque Marítimo de Odaiba, uma ilha artificial na capital do Japão.

Quatro vezes campeã mundial nos 25 km (2011, 2015, 2017, 2019), uma vez nos 5 km (2019) e dona de dez recordes no Guinness por número de títulos e vitórias (25 até 2019) em séries mundiais da maratona aquática da Federação Internacional de Natação (Fina), Ana Marcela conquistou o ouro em Tóquio com um tempo de 1:59:30, chegando à frente da holandesa Sharon van Rouwendaal (+0,9), campeã no Rio, e da australiana Kareena Lee (+1,7).

O ponto mais alto do pódio em Tóquio vai engrossar uma já impressionante vitrine que inclui 66 medalhas (33 ouros, 16 pratas e 17 bronzes) de competições de 5, 10 e 25 km da Fina, além do ouro nos Pan-americanos de Lima-2019 nos 10 km e seis dos dez prêmios entregues à melhor nadadora de águas abertas do mundo.

"Eu amadureci muito para chegar até aqui e só tenho uma coisa a dizer: acreditem nos seus sonhos", declarou a campeã olímpica após ganhar o ouro, o primeiro do Brasil na modalidade.

Cultura marítima de Salvador

Ana Marcela está conectada ao mar desde muito cedo. Ela aprendeu a nadar quando tinha dois anos. Foi a mãe que lhe ensinou a dar as primeiras braçadas para evitar sustos na piscina da creche. Com oito anos ela já praticava em águas abertas, impulsionada pela cultura marítima de Salvador, sua cidade natal.

"Sempre gostei de nadar ao ar livre, nos rios, nas praias", explicou Cunha, de 29 anos, ao site oficial dos Jogos de Tóquio. "Eu treino todos os dias da semana, exceto no domingo. Começo às 6h00 da manhã, como, descanso, e depois faço outro treino pela tarde. Isso dá uns 300 km por mês, dependendo da estação", explica.

Paixão pelo esporte

Depois da decepção no Rio, em outubro de 2016 ela sofreu outro baque. Uma doença auto-imune forçou a remoção de seu baço, embora em pouco tempo ela já estivesse de volta ao mar.

De braços e pernas tatuadas e com os arcos olímpicos gravados no ombro direito, Ana Marcela gosta de compartilhar nas redes sociais seus coloridos e chamativos cortes de cabelo, além de fotos com a namorada e mensagens positivas para que os jovens se apaixonem pelo esporte.

Um de seus ídolos é Ayrton Senna. Durante uma prova de 36 km entre Capri e Nápoles, na Itália, Ana Marcela usou uma touca no estilo dos capacetes do inesquecível tricampeão mundial de Fórmula 1.

Embora ela, a braçadas, e por si só, há muito tempo tenha conquistado seu lugar na história do esporte brasileiro.

"Procuro sempre compartilhar cada sucesso com os outros. Não sou nem melhor nem pior do que ninguém. Sou apenas a Ana Marcela das maratonas em águas abertas".

(Com informações da AFP)