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Para imprensa francesa, Bolsonaro agravou crise institucional mas não está morto

O presidente Jair Bolsonaro em encontro com empresários - Marcos Corrêa/PR
O presidente Jair Bolsonaro em encontro com empresários Imagem: Marcos Corrêa/PR

Da RFI

08/09/2021 09h48Atualizada em 08/09/2021 10h06

Os protestos ocorridos no feriado de 7 de setembro, dia da Independência do Brasil, tiveram forte repercussão na imprensa francesa hoje. Três grandes jornais do país dão sua visão sobre as manifestações ocorridas nas capitais brasileiras.

Para o Le Monde, Bolsonaro conseguiu mobilizar amplamente seus apoiadores e ameaça um pouco mais a democracia. "Ele parecia estar encurralado, cambaleante, à beira do abismo, enfraquecido por uma impopularidade recorde, vários inquéritos judiciais e repetidas crises. Mas talvez o tenhamos enterrado cedo demais", diz o correspondente do jornal francês em São Paulo. "Contra todas as probabilidades, Jair Bolsonaro conseguiu mobilizar seus apoiadores em massa nas ruas do Brasil, por ocasião do Dia da Independência Nacional", sublinha a reportagem.

Libération, jornal de esquerda, nota que "o presidente brasileiro adotou um tom ameaçador em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF), podendo aprofundar a crise institucional". Bolsonaro atacou ferozmente um dos juízes da Suprema Corte, Alexandre de Moraes, que ordenou investigações contra ele, apoiadores e aliados por espalhar informações falsas, relata a reportagem. Atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas eleitorais para 2022, Bolsonaro "segue o modelo de Donald Trump e busca jogar as ruas contra as instituições democráticas", escreve o diário.

O Libération ouviu o cientista político Maurício Santoro. Para ele, "o mais preocupante são os discursos do presidente contra as instituições democráticas, em particular o STF, sem precedentes desde o retorno da democracia", após a ditadura militar de 1964 a 1985. "É um pouco como a Hungria, Polônia, Venezuela ou os Estados Unidos da época de Trump: retórica autoritária que enfraquece a democracia por dentro", conclui.

A reportagem observa que a maioria dos presentes não usava máscara de proteção, enquanto, "apesar do progresso da vacinação, a pandemia está longe de ser controlada no país onde mais de 580.000 pessoas morreram de Covid-19". A mobilização em Brasília foi forte, diz o texto, mas "alguns comentaristas políticos esperavam ver uma multidão maior".

Num dia de discursos inflamados, opositores também protestaram. "A oposição pede a saída de um presidente acusado de ameaçar a democracia, de ter administrado de forma lamentável a crise da Covid-19 e a economia, com desemprego quase recorde e inflação preocupante", relata a reportagem, acrescentando que os manifestantes se dispersaram no fim da tarde, sem nenhum incidente grave.

Com 51% dos brasileiros desfavoráveis à sua gestão, Bolsonaro nunca foi tão impopular desde que assumiu o poder, em janeiro de 2019, conclui o Libération.

Le Figaro vê Bolsonaro num impasse

O jornal Le Figaro destaca o apoio dos bolsonaristas ao presidente neste 7 de setembro, mas recorda que três quartos dos brasileiros são a favor da democracia, de acordo com pesquisa do Instituto Datafolha de junho de 2020, e que 8 em cada 10 reprovam o clima de nostalgia em relação ao regime militar.

O diário de linha editorial conservadora destaca que "nos últimos meses, Bolsonaro viu sua popularidade cair nas pesquisas, teve seus projetos rejeitados no Congresso e viu o Judiciário se voltar contra seus aliados", enquanto "uma seca de intensidade recorde ameaça a retomada econômica do gigante latino-americano".

"O ex-capitão do Exército está num impasse", diz o Le Figaro, mas mantém apoio de 30% de seu eleitorado, com demonstrações em seu favor em praticamente todas as capitais.

Para o cientista político Thomas Traumann, citado pela publicação, "Bolsonaro apostou tudo nesse evento que é uma demonstração de força", dentro de uma estratégia de confrontação e combate, analisa o diário.

O Le Figaro também destaca que o presidente Bolsonaro "acentuou as críticas sobre o sistema eleitoral brasileiro, semeando dúvidas sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas sem fornecer provas".