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Baixa adesão no protesto de 12 de setembro contra Bolsonaro mostra ausência de Frente Democrática

13/09/2021 16h24

As manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro, deste último domingo (12), convocadas pelo MBL (Movimento Brasil Livre) e pelo VPR (Vem Pra Rua) não apagam a história desses movimentos na opinião do cientista político Carlos Milani, professor da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Os protestos também não tinham a expectativa de "intimidar" Bolsonaro, segundo Sonia Fleury, do Centro de Estudos Estratégicos da Fundação Oswaldo Cruz

Taíssa Stivanin, da RFI

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"É muito difícil colocar junto MBL, Cidadania, Vem Pra rua e outras lideranças políticas, que tiveram um papel muito importante na desestabilização política pré-impeachment da presidente Dilma Rousseff", diz o cientista político. "Essa é uma memória que permanece muito viva para os partidários do PT. É muito difícil imaginar a liderança do partido ou o ex-presidente Lula convocar protestos ao lado do MBL ou do Vem Para a Rua. Há 3 anos, o MBL estava fazendo campanha e chamando a rua a favor de Bolsonaro", lembra Carlos Milani.

Segundo ele, "essas mudanças bruscas de comportamento" são percebidas pela população e pelas pessoas que têm um certo grau de politização. "A não-resposta, ou a resposta bastante frágil, à convocatória dos movimentos que organizaram o 12 de setembro, tem relação com uma boa dose de desconfiança", ressalta.

"Temos que esperar um pouco e ver como serão os próximos atos. Os partidos como o PT, ou o PSOL, estão convocando outros atos para outros dias. Temos que ver a capacidade de mobilização desses partidos mais à esquerda, ou centro-esquerda, no espectro político e ideológico, para saber em que medida eles teriam uma capacidade de mobilização maior", explica. "Quando falamos desses partidos, não podemos nos esquecer da figura do ex-presidente Lula, que está articulando uma série de coalizões nos âmbitos estaduais e federal, pensando nas eleições de 2022."

Na opinião de Sonia Fleury, ficou claro que os protestos de domingo não visavam intimidar Bolsonaro. "Acho que o que faltou foi a construção de uma frente democrática, embora alguns setores, como empresários, mais de centro-direita, tenham ido para a rua, o que é uma novidade. Mas a construção dessa frente ainda está muito distante", analisa. "Isso é que é importante para a democracia. Intimidar o Bolsonaro é impossível. A única coisa capaz de intimidá-lo, é pensar que ele ou seus filhos podem ser presos."

Sem força para o golpe

Para Sonia Fleury, Bolsonaro não tem força para dar um golpe. "Estamos em uma situação de impasse: não tem impeachment, mas também não tem golpe", afirma, em meio à catástrofe da crise sanitária e ao aumento da inflação. "O pior é que Bolsonaro está conseguindo minar o estado e as instituições democráticas, e isso será muito difícil reconstruir. O golpe é diário, não é o golpe tradicional. É o pior que estamos vivendo, sem construir uma frente democrática", declara.

Carlos Milani compartilha essa opinião. "O 7 de setembro deixou claro que o Bolsonaro não tem força para dar um golpe", diz. "À medida que as eleições se aproximam, o que vai ficar claro é que os agentes políticos vão estar agindo muito mais em função das eleições que se aproximam do que apenas de um 'Fora Bolsonaro'".

Para ele, o avanço da campanha presidencial e o anúncio das coalizões vão determinar o tom dos próximos protestos contra o presidente. O cientista político também explica que, atualmente há um jogo de poder entre centro-direita e o centro-esquerda, em função das eleições. "É difícil unir todos esses movimentos e todos esses partidos, se olharmos para a trajetória histórica recente da política brasileira", avalia.

Bolsonaro vai perder as eleições?

Segundo ele, sempre pode haver uma surpresa, mas a tendência é que o impeachment não aconteça e Bolsonaro perca as eleições. "Bolsonaro não consegue articular um discurso coerente, ou construir frases. A tática da confusão é permanente", resume. "A fala dele na Paulista é uma fala de puro ódio. A expressão do rosto de Bolsonaro, se colocarmos em paralelo a expressão do rosto de Mussolini, e de Hitler, a diferença é muito pequena. É um discurso de muito ódio, com a diferença, talvez, de que ele não consiga, diferentemente das lideranças facista e nazista, articular coerentemente um discurso", completa.

A grande questão agora é se o eleitorado anti-petista estará disposto a votar em Lula para que Bolsonaro deixe o poder. Segundo Carlos Milani, as pesquisas apontam para uma diminuição dessa rejeição. "Essa é a grande pergunta: qual é a margem do anti-petismo que permanece, a ponto de não superar o anti-bolsonarismo", avalia."A rejeição contra o Lula e o PT vêm diminuindo à medida que os meses vêm passando. Quem governa sempre tem o ônus do governo, no caso das políticas não darem certo", avalia. "Temos que acompanhar o quanto essa rejeição vai diminuir", resume. Sonia Fleury concorda: "O que é triste é pensar que a eleição possa vir a ser decidida não em torno de ideias e programas, mas de rejeição. O que está em jogo agora é quem tem o maior índice de rejeição", lamenta.

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