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Brasileiros em Israel se revoltam com permanência do país na lista de destinos proibidos

Brasileiros em Israel se revoltam com permanência do país na lista de destinos proibidos - Fepesil/TheNews2/Estadão Conteúdo
Brasileiros em Israel se revoltam com permanência do país na lista de destinos proibidos Imagem: Fepesil/TheNews2/Estadão Conteúdo

Daniela Kresch

Correspondente da RFI em Israel

15/09/2021 06h07Atualizada em 15/09/2021 07h57

Um grupo de brasileiros em Israel está se rebelando contra a proibição de viajar ao Brasil por causa do coronavírus. Eles afirmam que não é justo que o Brasil ainda seja um dos únicos destinos numa lista de "países proibidos" emitida pelas autoridades israelenses. E acreditam que há preconceito na decisão, mesmo depois da queda no número de infectados e mortos no Brasil.

Estar nessa lista vermelha significa que os israelenses estão proibidos de viajar ao Brasil e caso o façam, terão que pagar uma multa de cerca de R$ 8,5 mil (o equivalente a pouco mais de US$ 1,5 mil). Só pode viajar quem receber uma autorização especial de um "comitê de exceções", que raramente é concedida. Fora isso, cidadãos brasileiros não podem entrar em Israel, nem mesmo se tiverem parentes no país.

O grupo criou um abaixo-assinado no dia 9 de agosto com o título: "Queremos ver nossos pais e avós". No abaixo-assinado, que conta até agora com o apoio de quase 2,4 mil pessoas, eles dizem querer "protestar veementemente contra a situação absurda", segunda a qual os imigrantes do Brasil "não podem viajar ao seu país de origem para visitar parentes de primeiro grau". Segundo eles, trata-se de "um direito básico" e a "situação atual representa discriminação injustificada, com base no país de origem".

O Brasil entrou nessa lista em 3 de maio de 2021 e nunca mais saiu. A princípio, eram sete países com a cor vermelha. Além do Brasil, estavam Índia, México, África do Sul, Ucrânia, Etiópia e Turquia. Hoje, apenas quatro nações estão na lista: Brasil, México, Bulgária e Turquia.

Brasil é preocupante por causa de variantes

Numa reunião nesta terça-feira, 14 de setembro, sobre todas as questões ligadas à pandemia na Comissão de Constituição e Justiça do Knesset, o Parlamento em Jerusalém, o assunto foi abordado. Mas, para decepção de quem esperava uma mudança, a comissão decidiu manter o Brasil na lista porque, segundo especialistas ouvidos, existem variantes de preocupação no país.

Em nota, a Embaixada do Brasil em Tel Aviv afirmou que "as restrições de ingresso em Israel de pessoas procedentes do Brasil foram estabelecidas pelo governo israelense, e que se trata de decisão soberana de natureza migratória das autoridades de Israel". Mas que a diplomacia brasileira "segue realizando gestões junto ao governo de Israel (...) com o propósito de buscar alternativas para que os viajantes brasileiros possam voltar a ingressar normalmente no país".

A Embaixada também disse, na nota, que "tem compartilhado informações atualizadas sobre a situação epidemiológica no Brasil, de modo a subsidiar as decisões do governo israelense e a contribuir para o retorno à normalidade".

Grupo Whatsapp para discutir opções

Um grupo especial de brasileiros moradores em Israel foi criado no Whatsapp só para discutir as opções. Com a ajuda da ONG "Olim do Brasil" - ou "imigrantes do Brasil" -, já enviaram uma carta aos ministérios da Saúde, do Interior e da Imigração explicando a situação. Até agora, receberam resposta apenas do escritório do diretor-geral do Ministério da Saúde afirmando que irá "examinar a possibilidade de mudar a política sobre o assunto".

Eles também criaram uma hashtag nas redes sociais chamada #WeWantToSeeOurFamilies ("Queremos ver nossas famílias", em português). Agora, pensam em realizar manifestações e entrar em contato com parlamentares.

Fora isso, em uma série de artigos em seu blog pessoal no site do jornal Times of Israel, a advogada brasileira Luiza Jarovsky, que vive em Israel desde 2018, tenta sensibilizar os leitores israelenses sobre a situação, afirmando que os brasileiros em Israel estão "furiosos".

Segundo ela, "forçar as pessoas a se separarem de suas famílias tem consequências claras", afirmando que "a saúde mental já está sendo afetada negativamente em todas as idades. Idosos morrerão sem ver seus netos. Pais perderão o casamento de seus filhos, pessoas ficarão mais doentes sem família e apoio emocional".

Pandemia recuou no Brasil

Em seu mais recente artigo, do último dia 12 de setembro, Luiza Jarovsky escreveu que os números da pandemia melhoraram muito no Brasil, nos últimos meses, mas o Brasil continua no rol dos banidos. Ela afirma que os dados mostram que as taxas de Covid-19 no Brasil, atualmente, estão menores do que em outros países liberados, como Reino Unido, Estados Unidos, Irlanda, Grécia e França.

A advogada também alega que a população brasileira apresenta níveis de vacinação altos. O Brasil tem 33% da população totalmente vacinada, mais do que Rússia e África do Sul. E 66% dos brasileiros receberam pelo menos uma dose da vacina, mais do que na Argentina e nos Estados Unidos.

Mas a presidente da ONG "Olim do Brasil", Gladis Berezowsky, se diz um tanto pessimista quanto a uma mudança na posição das autoridades israelenses. Segundo ela, os brasileiros não têm força política no país por serem apenas 15 mil em meio à população total de 9,3 milhões de habitantes.

Mas, quem sabe, as autoridades mudem em breve de ideia e aceitem a entrada de brasileiros vacinados em Israel e a viagem de israelenses ao Brasil. Isso porque o governo dos EUA alterou recentemente as recomendações de viagens para o Brasil, diminuindo o grau de risco do país de "muito alto" para apenas "alto".