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Macron e Merkel jantam juntos em Paris, reiteram cooperação e evitam falar em despedida

16/09/2021 19h03

O presidente francês, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, se comprometeram a trabalhar em estreita cooperação até a formação de um novo governo na Alemanha, depois das eleições legislativas de 26 de setembro. Merkel foi recebida para um jantar no Palácio do Eliseu na noite desta quinta-feira (16), provavelmente sua última visita a Paris enquanto chefe de governo, após 16 anos de sucesso entre os europeus.

Macron se recusou a falar em "despedida política", frisando que os dois dirigentes ainda terão várias ocasiões para se encontrar antes de Merkel transferir o poder a seu sucessor ou sucessora. As pesquisas indicam que as legislativas na Alemanha serão concorridas, com resultados apertados, o que deve gerar um longo período de negociações para a formação de uma nova coalizão de governo. 

Se as relações do casal franco-alemão conheceram altos e baixos desde a posse de Merkel, em 2005, elas terminam em alta após a adoção do plano de recuperação pós-pandemia de € 750 bilhões no bloco europeu. Em janeiro, a França assumirá a presidência rotativa da União Europeia por seis meses e Macron está preocupado com as consequências de uma possível paralisia em Berlim depois das eleições, segundo fontes do Palácio do Eliseu. 

Para este último jantar de trabalho em Paris, Macron recebeu Merkel como de costume nas escadarias do Palácio. "Até que o próximo governo seja formado, madame chanceler, querida Angela Merkel, continuaremos a trabalhar lado a lado nas principais questões para as quais procuramos fornecer soluções franco-alemãs", disse o chefe de Estado francês.

Na semana passada, Macron recebeu em Paris os dois candidatos favoritos à chancelaria, o conservador Armin Laschet, apoiado por Merkel, e o social-democrata Olaf Scholz, ministro das Finanças. O francês perguntou aos dois que planos tinham para a futura coalizão, mas tudo dependerá da votação dos verdes, que poderão ou não se ver em posição de força para arbitrar sobre a futura composição do governo. 

Aproximação

Em 16 anos de poder, Merkel trabalhou com quatro presidentes franceses. Esta última experiência com Macron foi marcada inicialmente pela impaciência do francês em convencer a relutante e sóbria chanceler a apoiar uma integração mais profunda da Europa, com um orçamento para a zona euro e uma mutualização de algumas dívidas europeias.

Durante o outono e o inverno de 2017, no começo do mandato de Macron, Merkel não se mostrou muito reativa às propostas do francês. Ela enfrentava longas negociações para formar um novo governo, os cristãos-democratas não eram entusiastas do projeto de mutualização das dívidas, Merkel estava enfraquecida no plano doméstico e hesitava em ir mais longe com Paris.

Mais tarde, algumas das posições de Macron irritarão Berlim, seja a tentativa de reaproximação com o russo Vladimir Putin, suas declarações sobre a morte cerebral da OTAN ou sua linha dura em relação à Turquia. Berlim, de alguma forma, acabava colocando ordem na confusão criada por Macron. Mesmo assim, o francês fala de um "confronto fecundo" quando evoca a relação bilateral com a Alemanha de Merkel.

A reaproximação entre os dois líderes aconteceu em meados de 2018, quando houve um acordo sobre o orçamento para a zona do euro, ainda que Paris tenha recebido apenas uma quantia muito modesta de Berlim. Dois anos depois, os dois países apresentaram uma iniciativa que deu origem ao plano de recuperação europeu que previa - algo antes impensável para a Alemanha - dívidas assumidas conjuntamente pelos países. Na sequência, surgiram outros entendimentos na política industrial do bloco, durante a pandemia e em matéria de defesa. 

Em uma pesquisa internacional apresentada esta semana, os europeus preferem Merkel a Macron em uma possível eleição de um presidente ou presidenta da Europa. A chanceler lidera a corrida na Alemanha, o que não causa surpresa. Mas também na França, Merkel lidera com 32% de preferência contra 26% para Macron.

Com a Reuters e Pascal Thibaut, correspondente da RFI em Berlim