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Arco do Triunfo é "empacotado" em obra póstuma dos artistas Christo e Jeanne-Claude

17/09/2021 05h52

A partir deste sábado (18) até o dia 3 de outubro, o Arco do Triunfo, convergência de artérias de Paris, fica embrulhada por um material prateado. O projeto do empacotamento é assinado por Christo e Jeanne-Claude, casal irreverente que marcou o universo das artes plásticas nas últimas décadas.

A dupla ficou principalmente conhecida por empacotar grandes monumentos, como a Pont-Neuf, de Paris, em 1985, e o Reichstag, sede do parlamento alemão em 1995. Eles também intervieram no Central Park, em Nova York, no Japao e na Italia.

Eles nasceram no mesmo dia, 15 de junho de 1935 - Christo, na Bulgária, e Jeanne-Claude, no Marrocos, onde seu pai era um militar francês de família aristocrata. Christo Vladimirov Javacheff fugiu do regime comunista e chegou a Paris em 1958. Para ganhar a vida, fazia retratos a óleo da burguesia parisiense, enquanto paralelamente realizava seus trabalhos pessoais. O quadro de uma grande dama da sociedade levou Christo a conhecer sua futura mulher e cúmplice nas artes, Jeanne-Claude Denat de Guillebon. Em 1964 eles se mudaram definitivamente para os Estados Unidos. A partir de 1994, passaram a assinar as obras conjuntamente, como Christo e Jeanne-Claude. Ela morreu em 2009, de um aneurisma

Em 2020, o Centro Pompidou de Paris dedicou uma retrospectiva à obra de Christo e Jeanne-Claude. A abertura estava prevista para março, mas foi adiada para julho, por causa da pandemia. Christo faleceu em maio, aos 84 anos, em Nova York, onde trabalhava no projeto do Arco do Triunfo.  

A ideia do empacotamento começou quando Christo embrulhou um pote de tinta, envolvendo-o com resina e tela de linho. Depois, passou a embrulhar tudo e qualquer coisa.

Ainda em Paris, sua primeira instalação, "Cortina de Ferro", foi também um ato político e engajado, em 1962. Com barris de petróleo vazios e retrabalhados, ele fechou uma rua de Paris de madrugada, uma referência ao muro dividindo a Alemanha, que ele viu sendo construído. Depois interagiu com vastas paisagens americanas, já usando tecidos e cores. Em 1985, o artista embalou a famosa Pont-Neuf em Paris. A intervenção causou polêmica, muitos criticaram a ideia de "ocultar" um monumento histórico. Agora, é a vez do Arco do Triunfo.

"Sempre fui um nômade. Fugi do comunismo, era um tempo difícil de se sobreviver. Eu já era estudante de arte, queria ir para Paris e consegui. A minha vida é a arte. A arte antes de tudo, liberdade total para a arte", declarou Christo em 2016, ao jornalista José Marinho da RFI, durante uma mostra na Fundação Maeght, em Saint Paul de Vence, no Sul da França.

As obras monumentais de Christo e Jeanne-Claude eram autofinanciadas - os artistas vendiam seus trabalhos para pagar os custos. O Arco do Triunfo, de 50 metros de altura, foi embrulhado com um tecido prateado e amarrado por 3 mil metros de cordão vermelho. Engenheiros e cordistas trabalharam 24h por dia para finalizar o projeto.  

Laure Martin, historiadora de arte, supervisionou o projeto: "Usamos 25 mil metros quadrados de tecido, o que representa cinco campos de futebol. Precisamos também de 3 mil metros de cordão vermelho - é a distância que separa o Arco do Triunfo da pirâmide do museu do Louvre".

O embrulho parece agradar a maioria. Os turistas param para fotos, os franceses vão até ali para tirar fotos. O parisiense Jean Pierre aprova: "Eu amo o Arco do Triunfo porque sou francês e parisiense. Isso é arte, e assim sendo, provoca sempre reações positivas ou negativas. Eu aprovo. Eu vi quando ele empacotou a Pont-Neuf - acho que ela nunca foi tão admirada quando não podia ser vista. E agora é a mesma coisa, vamos prestar muito mais atenção no Arco do Triunfo agora que não podemos vê-lo".

O Arco do Triunfo empacotado pode ser visitado até o dia 3 de outubro.