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Três astronautas voltam à Terra após 90 dias a bordo de estação espacial chinesa em construção

17/09/2021 11h10

Três astronautas chineses retornaram nesta sexta-feira (17) à Terra após um período recorde de três meses a bordo da estação espacial do país, que está em construção. A missão representou um marco para o país asiático em seu ambicioso programa de conquista do espaço.

Com o auxílio de paraquedas, a cápsula em que viajavam pousou às 13h34 (2h34 de Brasília) no deserto de Gobi, noroeste do país, informou a agência espacial chinesa (CMSA).

Os três homens decolaram em 17 de junho do centro de lançamento de Jiuquan, perto do ponto de retorno. A missão Shenzhou-12 foi a mais longa do país no espaço.

"É muito bom estar de volta", declarou ao canal estatal CCTV o astronauta Tang Hongbo, de 45 anos, pouco depois de sair da cápsula. "Pai, mãe, estou de volta! Estou com boa saúde e de bom humor", acrescentou, enquanto os companheiros de tripulação mais velhos, Nie Haisheng e Liu Boming, demonstravam um pouco mais de cansaço.

Huang Weifen, alto funcionário do programa espacial, afirmou que os três entraram em quarentena. "A medida foi adotada para protegê-los, não pela Covid-19, e sim porque a imunidade deles está menor por sua longa estada no espaço", disse Weifen.

Êxito total

A CMSA celebrou o "êxito total" da missão, que representa uma nova etapa no ambicioso programa espacial chinês, que já possui sondas na Lua e em Marte e prevê o envio de astronautas à Lua até 2030.

"A missão Shenzhou-12 alcançou o objetivo de ativar a nova estação e colocá-la em funcionamento", declarou à AFP Jonathan McDowell, astrônomo do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, nos Estados Unidos. 

"Isto abre o caminho para futuras missões regulares na estação. Foi muito importante e realmente primordial alcançar o sucesso no início", destacou Chen Lan, analista do site GoTaikonauts.com, especializado no programa espacial chinês.

A CCTV exibiu ao vivo o retorno dos três homens, com direito a imagens de uma câmera a bordo da cápsula, que mostrou o voo em grande velocidade sobre o deserto.

A bordo da Tianhe (que significa "harmonia celestial") - o único dos três módulos da estação espacial que já está no espaço -, os astronautas desempenharam várias tarefas.

A tripulação fez várias saídas ao espaço, operações de manutenção e instalou equipamentos para tornar operacional a estação espacial, cujo primeiro elemento foi lançado em abril.

Uma vez concluída, a estação Tiangong ("palácio celestial", em português) terá dimensões similares às da antiga estação soviética Mir (1986-2001) e deve ter uma vida útil de pelo menos dez anos, segundo a agência espacial chinesa.

Rivalidade China-EUA

A ambição da China de construir uma estação foi estimulada pela recusa dos Estados Unidos em dar acesso ao país à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), uma colaboração entre EUA, Rússia, Canadá, Europa e Japão.

A Shenzhou-12 é a primeira missão chinesa em quase cinco anos e uma questão de prestígio para o Partido Comunista, que celebra seu centenário em 2021.

"Embora a China esteja à frente da Europa em termos de voos espaciais tripulados, ainda há brechas com relação aos Estados Unidos, que vão demorar pelo menos uma década, ou até mais, para serem superadas", opina Chen Lan.

Ele aponta a vantagem dos Estados Unidos em tecnologia, mas também em redução de custos, com o uso atual de lançadores reutilizáveis para chegar à ISS.

"Mas o principal avanço americano reside na experiência", aponta McDowell.

"Os astronautas chineses, por exemplo, fizeram (durante a missão) duas saídas espaciais. Está longe das centenas que acontecem com a ISS. Este número faz a diferença", afirma Chen Lan.

A missão Shenzhou-12 foi a terceira das 11 que serão necessárias para a construção da estação espacial chinesa, entre 2021 e 2022.

O próximo lançamento da nave espacial Tianzhou-3, que transportará apenas equipamentos, acontecerá nos próximos dias, segundo as autoridades. Os sites especializados afirmam que ocorrerá na próxima segunda-feira (20).

(Com informações da AFP)