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'Carlos, o Chacal' é condenado novamente à prisão perpétua e quer cumprir pena na Venezuela

23/09/2021 17h45

A Justiça francesa condenou, nesta quinta-feira (23), o venezuelano Ilich Ramírez Sánchez, mais conhecido como "Carlos, o Chacal", à prisão perpétua, por um atentado em Paris em 1974. Essa foi a terceira condenação à pena máxima contra este símbolo da luta armada das décadas de 1970 e 1980, que espera terminar sua via em seu país natal. 

Após dois dias de julgamento e duas horas de deliberação, o tribunal destacou a "violência especial" deste atentado realizado para "pressionar o Estado". Carlos estava sendo julgado por ter lançado uma granada na galeria Drugstore de Paris. O ataque, que deixou dois mortos e 34 feridos buscava, segundo a acusação, facilitar a libertação de um membro do Exército Vermelho japonês, um grupo armado de extrema esquerda que, simultaneamente, sequestrou reféns na embaixada francesa em Haia.

Um tribunal de apelações já havia confirmado em 2018 a prisão perpétua de Carlos por este mesmo caso. No entanto, o Tribunal de Cassação, que reconheceu sua culpa, anulou parcialmente essa sentença em 2019 e ordenou que um novo julgamento fosse realizado. 

Carlos, que está preso na França desde que foi detido em 1994 em uma operação de espionagem francesa no Sudão, compareceu em seu último julgamento usando um paletó leve e lenço de bolso. Durante os recessos, esta figura da luta "anti-imperialista" das décadas de 1970 e 1980 não hesitou em mandar beijos, rir e conversar com os simpatizantes presentes na sala, que se despediram dele com um "até logo". 

Orgulhoso de seu "percurso revolucionário"

Pouco antes da deliberação, Carlos disse ter "orgulho de seu percurso revolucionário", durante o qual lembrou ter assassinado "pelo menos 83 pessoas". No entanto, ele nunca reconheceu o atentado da Drugstore. 

Ainda não se sabe se o Carlos vai recorrer da sentença. No entanto, ele já expressou o desejo de cumprir a pena em seu país natal. Sua advogada, Isabelle Coutant-Peyre, que se tornou sua namorada durante o processo, aconselhou o cliente a não recorrer e pediu que "a Venezuela solicite ao Estado francês sua transferência". 

Com esta sentença, este homem que se apresenta como um revolucionário "profissional", soma três condenações, após o triplo homicídio em 1975 em Paris e os quatro atentados a bomba em 1982 e 1983, que deixaram 11 mortos. 

Uma vida de crimes e fugas 

Ilich Ramírez Sánchez nasceu em Caracas, filho de um advogado marxista que escolheu para seus dois irmãos os nomes de Lenin e Vladimir. Aos 15 anos, ingressou no Partido Comunista Venezuelano, então clandestino, antes de ir estudar em Moscou. 

No início dos anos 1970 e depois de passar por um campo de treinamento na Jordânia, ingressou na Frente de Libertação da Palestina (FPLP). Foi nesse momento que ganhou seu nome de guerra, 'Carlos', a quem o jornal britânico The Guardianacrescentou o apelido de 'o Chacal'. 

Os serviços franceses encarregados de investigar as atividades da FPLP na França descobriram Carlos em 27 de junho de 1975 em Paris, quando invadiram o apartamento de uma venezuelana por indicação de um informante libanês. Em sua fuga, Carlos matou dois policiais parisienses e o libanês que o havia delatado. 

Naquela época, ele esteve envolvido em uma série de ações. Além do ataque na Drugstore Publicis, participou da tomada de reféns na embaixada da França em Haia e, posteriormente, de um ataque com mísseis ao aeroporto parisiense de Orly, em janeiro de 1975. Ele também supervisionou o espetacular sequestro de ministros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), em Viena, em dezembro de 1975. Entre 1982 e 1983, "o Chacal" esteve por trás de outros quatro atentados a bomba na França, que deixaram 11 mortos e 191 feridos. 

Depois de passar por vários países árabes e do Leste Europeu sob regime comunista, Carlos se estabeleceu em Damasco, em 1983. Onze anos depois, em agosto de 1994, foi capturado por agentes secretos franceses no Sudão e levado para a França. Desde então, os julgamentos se seguiram um após o outro. 

Aos71 anos, ele recebeu o anúncio da última sentença da justiça francês impassível e com um "muito obrigado".

(Com informações da AFP)