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França testa realidade virtual para impedir reincidência em crimes de violência doméstica

25/09/2021 14h13

A França lança um experimento que usa realidade virtual para impedir que homens condenados por violência doméstica reincidam no mesmo crime. Já testada na Espanha, a tecnologia oferece uma experiência de "imersão total" por meio de um fone de ouvido, que permite ao infrator ver as coisas do ponto de vista de suas vítimas.

O dispositivo retrata a história de uma família usando diferentes cenas da vida cotidiana envolvendo pais e filhos, uma série dividida em sete sequências ao longo de vários anos.

"É uma espécie de máquina de empatia" que destaca as emoções das vítimas e "faz com que os homens entendam o medo", explica Guillaume Clere, fundador da startup Reverto, que colaborou no projeto com o Ministério da Justiça francês.

Especialistas em violência doméstica ajudaram a desenvolver os cenários, com duração de 12 minutos, que abordam temas como controle, violência psicológica e violência física.

Apenas voluntários

Cerca de 30 voluntários - todos homens - optaram por participar do experimento, que começa em outubro e vai durar um ano por três serviços penitenciários.

Seis são de Villepinte e 12 são de Meaux, subúrbios a nordeste de Paris, enquanto 10 estão na cidade de Lyon, no sudeste.

"Demos prioridade aos perfis com maior probabilidade de reincidência", disse o Ministério da Justiça sobre o projeto, que deve ser avaliado de forma independente antes de se tornar permanente.

Durante anos, o Reverto vem desenvolvendo vídeos que compartilham a experiência de pessoas com deficiência, estudantes ou mulheres que foram assediadas.

Violência ligada à baixa empatia

"Estudos têm mostrado a correlação entre baixa empatia cognitiva e violência", disse Clère à agência AFP.

De fato, uma pesquisa do Laboratório Elico, com sede em Lyon, mostrou que a tecnologia de realidade virtual foi 76% eficaz na prevenção de assédio sexual.

O fone de ouvido "tem a capacidade de enganar o cérebro", explicou Géraud de la Brosse, que dirige o projeto para a Diretoria de Administração Penitenciária da França.

"É uma forma de abrir um diálogo com os perpetradores", disse ele ao site de notícias La Voix du Nord.

Depois das tornozeleiras eletrônicas

Revelado na sexta-feira pelo ministro da Justiça, Eric Dupond-Moretti, o dispositivo chega um ano depois que a França introduziu pela primeira vez tornozeleiras eletrônicas para impedir homens violentos de se aproximarem de suas vítimas.

Um sistema de alerta é acionado quando o agressor se aproxima muito da vítima, alertando imediatamente as autoridades. Cerca de 290 homens na França receberam tornozeleiras ativas.

A violência doméstica é um problema profundamente enraizado na França, com 90 mulheres assassinadas por seus cônjuges ou ex-cônjuges no ano passado e 146 mortas em 2019.