Análise: A confusa eleição alemã
A única coisa certa nesta eleição alemã de domingo (26) é que tudo ainda está incerto quanto ao resultado final. Não falo dos números. Ainda que preliminares, os resultados apontam claramente que o Partido Social-Democrata, SPD, será o mais votado, com quase 26% dos votos.
Flávio Aguiar, analista político
A dupla siamesa União Democrata Cristã (CDU), da chanceler Angela Merkel, e a União Social Cristã (CSU), da Baviera, que governou o país por 52 dos 72 anos da República Federal da Alemanha, obterá o pior resultado de sua história, 24,1 % dos votos.
Os Verdes, apesar de terem perdido a liderança nas últimas semanas, terão seu melhor resultado na história, com quase 15% da votação. O liberal Freie Demokraten Partei (Partido Democrático Liberal, FDP) está atualmente com 11,5%, e vai ficar em torno disto. O Alternative für Deutschland (Alternativa para a Alemanha, AfD) perdeu muitos votos, ficando com 10,3%. E Die Linke, A Esquerda, quase caiu fora do Parlamento, pois provavelmente ficará aquém da cláusula de barreira (5%), com 4,9%. Mas se manterá no Bundestag, pois há uma regra eleitoral que diz que o partido que eleger pelo menos três candidatos diretamente, fica dispensado daquela cláusula.
Deve-se lembrar que o eleitor alemão dispõe de dois votos não vinculados. No primeiro, elege o representante de seu distrito; no segundo, vota no partido de sua preferência. O resultado final combina os dois votos.
Entretanto, agora vem a parte mais difícil da eleição, a de formar a coligação que governará o país. É impossível, neste momento, dizer com certeza qual será ela. O SPD deve ser chamado pelo presidente para tentar esta formação. Vai conseguir?
Em princípio, seu líder, Olaf Scholz, teria de combinar com os Verdes e com o FDP, uma aliança difícil entre partidos que têm posições muito diferentes, por exemplo, em relação ao meio ambiente.
O líder da CDU/CSU, Armin Laschet, apesar do mau resultado, anunciou que não vai desistir de tentar a formação de um governo. Esta negociação pode durar dias, semanas ou até meses. E um detalhe não menos importante para o futuro é o da extrema volatilidade dos votos nesta eleição.
O SPD tomou 1 milhão e 360 mil votos da CDU/CSU, que perdeu outros 900 mil para os Verdes e 340 mil para o FDP. Desta vez, não foi apenas a era Merkel que acabou; foi também a era de certezas inabaláveis quanto à escolha dos votos por parte do eleitorado alemão.
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