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Vítimas dos atentados terroristas de 2015 em Paris começam a depor em julgamento

28/09/2021 16h41

As vítimas dos atentados terroristas de 13 de novembro de 2015 em Paris começaram, nesta terça-feira (28), a contar à Justiça o enorme "choque" que viveram, seis anos após uma noite de horror que traumatizou a França.

O tribunal, que julga 20 acusados dos piores ataques na capital francesa desde a Segunda Guerra Mundial, começou a ouvir as testemunhas do primeiro atentado ocorrido naquela noite, nos arredores do Stade de France.

"Um homem-bomba se explodiu na nossa frente. Ainda lembro da explosão, o barulho, o cheiro. Fiquei chocado com o corpo humano partido em dois, com os pedaços de carne espalhados", disse Pierre ao tribunal. O policial aposentado afirma ainda estar "traumatizado". Ele patrulhava a cidade na noite do ataque junto com outros colegas em frente ao estádio onde era disputada uma partida amistosa de futebol entre França e Alemanha.

Em "33 anos de carreira", Philippe, veterano das forças de segurança, relatou nunca ter sentido tamanha "comoção". "Não somos treinados para ver um kamikaze", destacou ele sobre a ação terrorista.  

Cerca de 350 partes civis, entre sobreviventes e familiares dos mortos, pediram para falar nas audiências, como lembrou o presidente do tribunal, Jean-Louis Périès, antes de dar início às cinco semanas de trabalho.

"O desafio duplo é saber o que queremos dizer e não dar muita importância ao que os outros consideram importante", estimou, Arthur Dénouveaux, presidente da associação Life for Paris. Este sobrevivente do massacre na sala de espetáculos Bataclan explicou o que havia dito às vítimas: "o que interessa é falarem o que viveram".

Porém, tentar explicar com palavras o horror que viveram e a forma como suas vidas foram destruídas parece complicado, especialmente quando, além dos magistrados, estão na sala os próprios acusados. Entre eles, Salah Abdeslam, de 32 anos, o único integrante ainda vivo dos comandos que promoveram os ataques.

"Quero fazer isso, faz parte do meu trabalho de reconstrução", explicou Marko, de 31 anos. "Quero enfrentar essas pessoas, que elas vejam quem são as vítimas. O que aconteceu conosco e com quem não está mais aqui", completou. Em 13 de novembro de 2015, ele estava no bar La Belle Équipe junto com um grupo de amigos. Um deles, Victor, está entre os que morreram naquela noite de ataques a bares e restaurantes da capital.

Encarar os acusados

Uma pergunta que surgiu com frequência dias atrás era se os depoentes poderiam se dirigir aos acusados. Todos têm em mente Abdeslam, que desde o início do julgamento não hesita em interromper as sessões para tomar a palavra. Na semana passada, ele disse ao tribunal que os atentados eram "inevitáveis", mas defendeu o "diálogo" para evitar outros.

Marko estava na sala, fora de si: "Me levantei e comecei a insultá-lo. Uma amiga me acalmou, mas permaneci de pé até o final, olhando fixamente para ele".

As normas estabelecem, no entanto, que as testemunhas se dirijam ao tribunal. O banco destinado a elas se encontra, inclusive, mais à frente do banco dos réus, portanto precisariam virar o rosto para dirigirem-se a eles.

O julgamento dos atentados terroristas de Paris começou no dia 8 de setembro e deve durar até o fim de maio. Os acusados começarão a depor a partir de 2022.

(Com informações da AFP)