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EUA: três homens brancos são julgados pela morte do corredor afro-americano Ahmaud Arbery

18/10/2021 15h19

Gregory McMichael, 65 anos, seu filho Travis, 35, e seu vizinho William Bryan, 52, serão julgados a partir desta segunda-feira (18) pela morte do afro-americano Ahmaud Arbery, morto enquanto fazia jogging na sua cidade, em Brunswick, na Geórgia, em fevereiro de 2020.

Com Loubna Anaki, correspondente da RFI em Nova York

Na onda do movimento #blacklivematters, o caso de Arbery se tornou emblemático. No dia de sua morte, Gregory e Travis o perseguiram em uma caminhonete, enquanto Bryan estava em seu próprio veículo e filmou a cena. Após uma discussão, Travis McMichael abriu fogo e matou o rapaz de 25 anos.

Os três homens alegam que confundiram o corredor com um ladrão que era ativo na região e utilizaram, para a própria defesa, uma lei da Geórgia que permite aos cidadãos comuns efetuarem detenções. Gregory McMichael, um policial aposentado, trabalhou durante vários anos para os promotores locais.

Por conta dessa proximidade, a polícia não prendeu nenhum suspeito durante dois meses. A Justiça local tentou abafar o caso até o vídeo do drama ser divulgado pelo advogado de Arbery de forma massiva nas redes sociais. As imagens geraram polêmica e provocaram diversas manifestações. Sob pressão, a polícia acabou prendendo os três acusados.

A morte de George Floyd, algumas semanas depois, com o pescoço pressionado pelo joelho de um policial branco em Minneapolis, provocou a retomada de um debate nacional sobre a justiça racial e a violência policial contra os afro-americanos. Arbery se tornou um dos símbolos dos protestos nacionais do movimento Black Lives Matter. "Um homem negro deveria poder correr sem temer por sua vida", tuitou o presidente Joe Biden no aniversário da morte de Arbery.

Governo Biden não avançou na luta contra violência racial

O processo que tem início nesta segunda-feira pode aumentar a tensão na Georgia, que ainda enfrenta seu passado racista. A um ano das eleições de meio de mandato, o presidente democrata Joe Biden não avançou na luta contra a violência racial sistêmica, principalmente da parte de policiais, como explicou à RFI Corentin Sellin, professor de História e especialista da política americana.

"O Congresso tinha iniciado negociações e, no ano passado, Joe Biden tinha pedido aos parlamentares que votassem uma legislação para marcar a data do aniversário da morte de George Floyd. Nada aconteceu. Pior: há algumas semanas, as negociações bipartidárias, comandadas por dois senadores afro-americanos, fracassaram", diz.  

"Isso é mais uma prova da teimosia de Biden: querer obter um consenso com os republicanos. Mas será que esse consenso é possível, levando em conta as diferenças entre democratas e republicanos, sobretudo em relação à violência policial? Não há nenhum avanço notável", ressalta.

Vítima estaria desarmada

A seleção do júri deve demorar vários dias. Os acusados provavelmente alegarão que agiram em legítima defesa e que Arbery resistiu à detenção legal.

Os promotores insistirão que a vítima estava desarmada e que nada a vinculava a uma série de roubos que aconteceram no bairro onde praticava corrida. Ben Crump, um advogado de direitos civis que representou várias famílias afro-americanas em casos de violência, declarou ter a esperança de que o "tribunal faça justiça" a Ahmaud e sua família.

"Se estes assassinos escaparem sem consequências, isto enviará a mensagem de que o linchamento de homens negros em 2021 não acarreta nenhuma punição", disse Crump. Desde a morte de Arbery, a Geórgia aprovou uma lei que impõe penas adicionais por crimes motivados pelo ódio racial, gênero, orientação sexual e outras características da vítima.

A mãe de Arbery iniciou um processo civil separado para exigir o pagamento de um US$ 1 milhão contra os três suspeitos, mas também contra as autoridades locais, acusadas de tentar acobertar o caso. Um dos promotores locais, Jackie Johnson, também foi acusado no mês passado por violar seu juramento ao cargo e supostamente obstruir a investigação da morte de Arbery.

William Bryan, Gregory e Travis McMichael também enfrentam acusações federais separadas por crimes de ódio e um julgamento está programado para fevereiro.

(AFP e RFI)