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Estudo da ONU critica plano brasileiro para aumentar produção de petróleo e gás

20/10/2021 12h25

A duas semanas da abertura da Conferência da ONU sobre mudanças climáticas (COP26) em Glasgow, na Escócia, um relatório divulgado nesta quarta-feira (20) mostra que os planos para a produção de combustíveis fósseis ainda são amplamente inconsistentes com os objetivos do Acordo de Paris. Entre os 15 países analisados estão Brasil e México, duas nações que não se comprometeram a reduzir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa até 2030, um dos compromissos cruciais da COP26.

Os principais produtores de carvão, petróleo e gás apresentam um discurso duplo no que diz respeito ao cumprimento de seus objetivos ambientais, observa o estudo copatrocinado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e o Instituto do Meio Ambiente de Estocolmo.

"Os governos planejam produzir 110% a mais de combustíveis fósseis até 2030 do que seria coerente com o limite do aquecimento global de 1,5ºC, e 45% a mais do que seria compatível com o limite de 2ºC", explica o documento. 

"Alguns países, inclusive, estão acelerando o ritmo de produção, com a ideia de ser 'o último a abandonar' o gigantesco negócio dos combustíveis fósseis", criticou Michael Lazarus, um dos coautores do estudo. A diferença entre o que deveria acontecer e o que vai acontecer na realidade aumentará até 2040, adverte o relatório, que teve a primeira edição divulgada em 2019.

A pior situação é a do carvão: os planos e projeções dos 15 países examinados preveem que a produção deste combustível vai aumentar 240% até 2030; a de petróleo crescerá 57% e a de gás 71%.

"Chegou o momento para que os países alinhem seus planos do setor energético com suas ambições climáticas", advertiu Niklas Hagelberg, coordenador do subprograma de mudança climática do PNUMA.

Brasil entre os criticados

O plano energético do Brasil até 2050 demonstra que o governo "pretende atrair investimentos e aumentar a produção de petróleo e gás" para transformar o país em um dos cinco principais produtores mundiais, afirma o estudo.

Alguns países considerados exemplares na luta contra as mudanças climáticas também são criticados. A Noruega, que tem um fundo de investimentos de mais de US$ 1 trilhão graças à exploração ininterrupta de suas reservas de petróleo e gás, limitou-se a anunciar que vai suspender os investimentos na extração de carvão e de algumas atividades petrolíferas. Mas o país mantém os objetivos nacionais em termos de combustíveis fósseis, ao mesmo tempo que se proclama um campeão da causa ecológica. A Noruega pretende aumentar os cortes de emissões de gases do efeito estufa até 50-55% em 2030, de acordo com um anúncio recente.

Desde o início da pandemia de Covid-19, os países do G20 gastaram mais de US$ 300 bilhões no setor de combustíveis fósseis, revela o levantamento do PNUMA. A própria Agência Internacional de Energia (AIE) reconheceu em seu relatório mais recente que a pressão para consumir fontes de energia baratas e abundantes não vai diminuir nas próximas décadas, apesar dos cenários catastróficos divulgados pelos especialistas em clima para 2050.

"A energia moderna é inseparável do modo de vida e das aspirações de uma população mundial que crescerá em quase 2 bilhões de pessoas até 2050", advertiu a AIE. 

"A produção mundial de combustíveis fósseis deve começar a declinar de maneira forte e imediata", insiste o estudo copatrocinado pelo PNUMA e o Instituto do Meio Ambiente de Estocolmo.

(Com informações da AFP)