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Agravamento da crise energética na União Europeia preocupa líderes do bloco

21/10/2021 07h34

Quando os líderes europeus estiverem sentados em volta da mesa de negociações em Bruxelas haverá duas certezas incontestáveis: o frio do outono e a disparada dos preços da energia para milhões de pessoas no continente.

Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas

Em uma tentativa para amenizar o impacto dos altos custos da conta de energia elétrica no bolso dos consumidores e empresas, a Comissão Europeia tem recomendado que os governos cortem impostos e adotem subsídios estatais. Porém, diante da grave crise energética, os dirigentes do bloco querem mais empenho de Bruxelas, que parece relutante em assumir a liderança para tentar solucionar o problema.

Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), o preço do gás aumentou em 500% nos últimos seis meses na Europa. Entre outros fatores, especialistas afirmam que o preço recorde da eletricidade está sendo impulsionado pela incapacidade de atender a demanda, as cotações  altíssimas do carvão e do gás natural e a produção de energia renovável mais baixa do que o normal, sobretudo a energia eólica.

A situação deve piorar ainda mais nos próximos meses, com a chegada do inverno. Em Bruxelas, os dirigentes da UE ainda devem discutir a situação do Estado de Direito na Polônia, entre outros temas. Prestes a deixar o cargo após 16 anos no poder, esta será a última vez que a chanceler alemã Angela Merkel participará de um Conselho Europeu.

Inflação deve chegar a 4% por causa do aumento do preço do gás

Dependente da energia de fornecedores externos, a União Europeia importa quase 90% do gás que consome da Rússia. Mais de um quinto da eletricidade na Europa é proveniente do gás natural. Segundo dados recentes divulgados pela Eurostat, a agência de estatísticas da UE, esse aumento nos preços do gás tem feito a inflação subir em 19 países da zona do euro e está impactando tudo, da produção de carros à fabricação de computadores.

No mês passado, a inflação na zona do euro alcançou 3,4%, o nível mais elevado desde 2008. A estimativa do Banco Central Europeu é de que, até o final do ano, a inflação chegue a 4%, o dobro da meta do BCE. De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), além de impulsionar a inflação, a crise energética, que também tem provocado apagões contínuos, pode levar à redução da atividade industrial e desacelerar a recuperação mundial pós-pandemia de Covid-19. Os governos europeus estão tentando limitar o impacto sobre os consumidores, mas reconhecem que podem não ser capazes de evitar contas mais altas.

Menos combustíveis fósseis mais energias renováveis

A Comissão Europeia acredita que os níveis recordes das contas de luz devem acelerar a transição para mais energias renováveis. Recentemente, o vice-presidente executivo da Comissão Europeia, Frans Timmermans, disse que "se tivéssemos assinado o Green Deal cinco anos antes, não estaríamos nesta posição, porque já teríamos menos dependência dos combustíveis fósseis e do gás natural".

O Green Deal ou Pacto Verde Europeu, lançado por Bruxelas há quase dois anos, tem como meta zerar o nível de emissão de carbono até 2050. Na semana passada, a comissária para Energia do bloco, Kadri Simson, afirmou que "o aumento dos preços globais da energia é uma preocupação séria para a União Europeia".

A prioridade imediata do executivo europeu é tentar amenizar os impactos sociais através, por exemplo, da distribuição de vouchers ou do pagamento de parte das faturas das famílias vulneráveis e empresas pequenas. Analistas dizem que basta uma vaga de frio mais rigorosa no continente para que os preços do gás cheguem aos três dígitos, acima de 100 euros por MWh.