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Negociação será "mais difícil" na COP26 do que para o Acordo de Paris do Clima, adverte britânico

23/10/2021 10h14

O presidente da Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas (COP26), o britânico Alok Sharma, afirmou neste sábado (23) que será "mais difícil" alcançar um acordo mundial ao final da reunião de cúpula, que começará no dia 31 em Glasgow, do que durante o encontro de Paris, em 2015. Em paralelo, a Arábia Saudita, maior exportador mundial de petróleo, se comprometeu à neutralidade de carbono em 2060.

A partir do próximo domingo, na Escócia, o governo britânico comandará duas semanas de duras negociações internacionais para persuadir quase 200 países a fazer mais para reduzir as emissões de carbono. O objetivo do encontro é conter o aquecimento global a 1,5 ºC em relação à era pré-industrial, uma meta ambiciosa fixada em 2015 no Acordo de Paris.

"O que estamos tentando fazer aqui em Glasgow é realmente muito complicado, definitivamente mais difícil que Paris em muitos níveis", declarou Sharma ao jornal The Guardian. "O que fizeram em Paris foi brilhante, foi um marco, (mas) grande parte das regras detalhadas foram deixadas para o futuro", acrescentou.

"É como se tivéssemos chegado ao fim de uma prova e restassem apenas as perguntas mais difíceis. E o tempo está acabando, a prova termina em meia hora", exemplificou.

Contexto geopolítico pior do que em 2015

As negociações serão complexas pela evolução do contexto geopolítico nos últimos anos: o Reino Unido e os Estados Unidos mantêm relações mais tensas do que antes com China e Rússia, cujos presidentes provavelmente não comparecerão à COP26.

Desde a assinatura do Acordo de Paris em 2015, a transição para uma economia e energias mais limpas progrediu, mas de maneira muito lenta para limitar o aquecimento a menos de 2 ºC, em comparação com o fim do século 19. Em agosto, o relatório mais recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) advertiu para o risco de atingir o limite de 1,5 °C de aumento das temperaturas já em 2030, 10 anos antes do projetado, o que ameaçaria a humanidade com desastres naturais sem precedentes.

"Mas o que existe a nosso favor atualmente é que há consciência de que temos que enfrentar esta crise climática", destacou Sharma. "O relatório do IPCC, apesar de muito alarmante, foi suficientemente útil para abrir as cabeças", insistiu.

Arábia Saudita se compromete

A Arábia Saudita, maior produtora de petróleo do mundo, anunciou neste sábado que deseja alcançar a neutralidade de carbono até 2060, graças a uma estratégia de economia circular de carbono. O reino, um dos maiores poluentes do mundo, também deseja aderir aos esforços internacionais para reduzir as emissões de metano em 30% até 2030.

As revelações foram feitas pelo príncipe herdeiro, Mohamed bin Salman. O plano pretende aumentar a eficiência do uso dos recursos e reduzir o impacto ambiental, declarou Bin Salman, que participa no fórum sobre o meio ambiente "Saudi Green Initiative".

"Me sinto honrado de anunciar estas iniciativas no setor energético que reduzirão as emissões de carbono em 278 milhões de toneladas anuais até 2030, o que praticamente dobra nossos objetivos anunciados até agora", acrescentou o príncipe herdeiro.

Em março, o país iniciou uma campanha para limitar as mudanças climáticas e reduzir as emissões poluentes, que incluía, por exemplo, a plantação de milhões de árvores nas próximas décadas. No que diz respeito ao carbono, a Arábia Saudita é um país relativamente importante, ao emitir quase 600 milhões de toneladas de CO2 por ano, mais do que a França, mas um pouco menos que a Alemanha (800 milhões de toneladas). A meta estabelecida por Riad até 2060 está mais longe do que a de dezenas de outros países até 2050, ao menos no papel.

O país, líder da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), deseja ter metade da energia procedente de fontes renováveis até 2030, anunciaram na ocasião as autoridades. O reino usa atualmente petróleo e gás natural para responder a sua própria demanda de energia elétrica, que cresce rapidamente, e para dessalinizar sua água.

Os anúncios de Riad foram feitos um dia depois de o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmar que a situação climática atual é "uma passagem para o desastre" e ressaltar a necessidade de "evitar um fracasso" na COP26. De acordo com as Nações Unidas, mais de 130 países estabeleceram ou planejam estabelecer o objetivo de reduzir as emissões de gases do efeito estufa a um nível líquido de zero até 2050, um objetivo que a organização internacional considera "imperativo" para preservar um clima habitável no planeta.

Com informações da AFP