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Alemanha reforça controle na fronteira com a Polônia enquanto combate milícias anti-imigrante

25/10/2021 13h19

Vindos do Oriente Médio, os imigrantes que chegam a Belarus têm como destino final a Alemanha, país que acolheu centenas de milhares de refugiados durante a crise de 2015. Desta vez, no entanto, Berlim pretende ampliar o controle de suas fronteiras para novas chegadas, aumentando o número de policiais na divisa com a Polônia, enquanto combate milícias de extrema direita que atacam os migrantes em violentas patrulhas.

De Pascal Thibaut e Nathalie Versieux, correspondentes da RFI em Berlim.

Desde o início de outubro, a Alemanha registrou 3.800 travessias ilegais de imigrantes vindos da Polônia, ampliando para 6.000 o número de chegadas ilegais desde o início do ano. No último sábado, um caminhão com iraquianos foi detido na região de Mecklenburg, no nordeste do país.

As cifras estão muito distantes do mais de 1 milhão de refugiados que pediram asilo no país em 2015, mas o governo alemão está preocupado em não ser pego de surpresa em uma nova crise com a chegada de milhares de afegãos, iranianos e iraquianos.

Até agora, o ministro do interior alemão, Horst Seehofer, rejeita fiscalizar sistematicamente os documentos de quem chega pela fronteira polonesa, mas enviou um reforço de 800 agentes policiais para a região e avisou que o número pode ainda ser ampliado, caso seja necessário.

Além de ter apoiado o anúncio do governo polonês de construir uma barreira para evitar a entrada de imigrantes vindos de Belarus.

Pressão contra imigração

Os refugiados chegando de Belarus têm sido acolhidos em centros de migração organizados a leste da Alemanha, mas o aumento do número de ilegais tem provocado reação nestas regiões. A Federação de Municípios Alemães exige que o governo alemão e a União Europeia tomem medidas para acabar com a imigração ilegal.

Na pequena cidade de Eisenhüttenstadt, na fronteira com a Polônia, um centro de alojamento de emergência para imigrantes divide as opiniões.

Antigamente conhecida por sua produção de aço, a cidade perdeu seu brilho e metade de sua população desde a queda do muro de Berlim e o fechamento da indústria local. A cidade, atualmente, tem uma população importante de aposentados, muitos preocupados com a imigração.

"Vemos os imigrantes pelas ruas. No verão, havia muitos negros. Agora, eles vêm de todo o lado. Houve um tempo aqui, quando se andava pela rua, sentia-se como se estivesse na Síria, com todas estas mulheres com lenços de cabeça. Tinha acalmado, muitos tinham sido espalhados para o resto da Alemanha. E agora... Estivemos durante a semana com o meu marido na Polônia, e vimos por lá alguns escondidos em arbustos. Eles não viram que na frente deles estava a polícia, e foram apanhados", conta a aposentada alemã Maria.

Matthias, também aposentado, teme um regresso ao caos de 2015. "A situação tinha se tornado mais calma. Havia muito menos [imigrantes]. Agora já tivemos milhares em outubro. Temos que conviver com isso", diz ele.

Crescimento da extrema direita

O aumento de chegadas de imigrantes voltou a ser moeda política. Nas eleições legislativas de setembro na Alemanha, um em cada cinco moradores de Eisenhüttenstadt votou no partido de extrema-direita AfD.

Além dos ganhos políticos, o discurso contra imigrantes tem atraído para as regiões de fronteiras mílicias violentas. No último sábado, 50 pessoas conhecidas como participantes do grupo Der Dritter Weg foram detidas pela polícia na região fronteiriça de Guben. Muitos vinham de Brandemburgo, Berlim e até mesmo da distante Baviera.

A polícia apreendeu com eles um arsenal com sprays de pimenta, cassetetes, facas e até machadinhas. O objetivo do grupo era fazer uma patrulha contra imigrantes ilegais na fronteira, repetindo as cenas de violência já vistas na Baviera em 2019.