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General dissolve governo de transição e decreta estado de emergência no Sudão

25/10/2021 11h24

O general sudanês Abdel Fattah al Burhan dissolveu nesta segunda-feira (25) o governo de transição e decretou estado de emergência no país. Quase todos os integrantes civis do gabinete foram presos. Desde cedo, manifestantes pró-democracia estão na rua em protesto contra o golpe.

Desde o início da manhã desta segunda, o "golpe de Estado" no Sudão acontece por etapas e é denunciado pela comunidade internacional. O primeiro-ministro Abdallah Hamdok, sua esposa, vários ministros e todos os membros civis do Conselho Soberano - maior autoridade da transição do país - foram detidos.

Após os militares tomarem o controle da televisão estatal nacional, o general Abdel Fattah al Burhan fez uma declaração à nação. Apesar de ter afastado todas as autoridades civis do poder, ele repetiu que deseja uma "transição civil e eleições livres em 2023", após 30 anos de ditadura de Omar al Bashir.  

Nesta tarde, o secretário geral da ONU, Antonio Guterres, condenou o golpe em curso e exigiu a liberação imediata do primeiro ministro Abdallah Hamdok. 

Políticos sudaneses pedem que os militares desistam do golpe iniciado e negociem com os civis a transição de poder.

"Peço que eles não manchem a posição honrosa que tinham aos olhos da população sudanesa desde a revolução gloriosa de 11 de abril de 2019. Peço que eles mantenham a negociação em parceria com os políticos e a população civil", declarou nesta manhã a vice-presidente do partido Oumma, Maryam Sadek, em entrevista à RFI.

Desde cedo, as ruas de Cartum foram tomadas por protestos contra a prisão do governo de transição e por democracia. Os "protestos contra o golpe de Estado para proteger a revolução" de 2019 - movimento que derrubou Bashir -, foram convocados pelo primeiro-ministro Abdallah Hamdok.

Entre os gritos da população, frases como "nossa revolução é pacífica e assim continuará" ou também "não são as balas que matam, mas o silêncio imposto ao povo".

No centro de Cartum, a sede do Exército está com proteção reforçada de soldados há vários dias. Diante da massa em protesto, os militares atiraram e feriram doze manifestantes, denuncia um sindicato de médicos.

"Proteger a revolução"

Temendo pela vida do premiê, detido em um local não identificado, seu gabinete advertiu que as autoridades militares têm "toda responsabilidade sobre sua vida, ou morte". No mês passado, uma tentativa de golpe já havia sido registrada no Sudão.

O enviado da ONU para o país africano, Volker Perthes, considerou as detenções "inaceitáveis" e pediu a libertação imediata de todos os detidos. O governo dos Estados Unidos advertiu que "qualquer mudança no governo de transição coloca a ajuda americana em perigo". A Liga Árabe também manifestou "profunda preocupação" e pediu a todas as partes que respeitem o acordo de divisão de poder.

Diante dos apelos, o general Burhan disse que o país respeitará os acordos internacionais assinados. O Sudão é um dos quatro países árabes que normalizaram, recentemente, as relações com Israel.

Manifestações

Nas ruas de Cartum, onde o serviço de telecomunicação é cada vez mais inconstante, muitos sudaneses protestaram e vaiaram o general Burhan.

"Não aceitaremos um regime militar. Estamos dispostos a dar nossas vidas pela transição democrática", declarou à AFP um dos manifestantes, Haitham Mohamed. "Não vamos abandonar as ruas antes do retorno do governo civil", afirmou Sawsan Bachir.

O Sudão enfrenta uma transição política precária, marcada por divisões e por lutas de poder desde a queda de Bashir em abril de 2019. Desde agosto, o país é governado por uma administração cívico-militar, responsável por realizar uma transição democrática plena sob gestão civil. O objetivo é organizar, no fim de 2023, as primeiras eleições sudanesas livres em três décadas.

Nos últimos dias, porém, a tensão aumentou entre os dois lados. Em 21 de outubro, dezenas de milhares de sudaneses participaram de passeatas em várias cidades para apoiar a transição de poder para os civis e contra-atacar uma "manifestação" iniciada dias antes, diante do palácio presidencial de Cartum, para exigir a volta do "governo militar".

* Com informações de Elliot Brachet, correspondente da RFI, e da AFP