Topo

Superdependência da UE de magnésio da China pode paralisar montadoras europeias

25/10/2021 11h10

A dependência produtiva que vários países têm da China só funciona enquanto a China é capaz de produzir. Quando há um problema estrutural, como a atual crise energética que assola todo o território chinês, a situação acaba impactando para muito além de suas fronteiras. A bola da vez é o magnésio, mineral necessário no processo de preparo do alumínio para diversas indústrias, inclusive a indústria automotiva.

Por Thiago de Aragão, de Washington

Na Europa, a ausência de magnésio já despertou falas fortes da chanceler alemã, Angela Merkel, assim como dos primeiros-ministros da República Tcheca e da Itália, países que possuem uma indústria automotiva forte. A falta de magnésio pode levar a indústria automotiva europeia a ter de paralisar sua produção, colocando em risco milhares de empregos na Alemanha, França, Espanha, Itália, República Tcheca e Polônia.

O impacto é grande e a saída precisa ser estruturada a longo prazo, pois no curto prazo, não existe forma de driblar a dependência europeia no mineral vindo da China. Cerca de 95% de todo o magnésio utilizado na Europa para a fabricação de ligas de alumínio e de 87% de toda a demanda mundial vêm da potência asiática.

Uma das principais hipóteses para a diminuição da produção chinesa é o custo energético para produzir a matéria-prima. Outras indústrias acabaram sendo privilegiadas pela política de racionamento imposto por Pequim, fazendo com que a produção ficasse muito abaixo da demanda, afetando, sobretudo, as empresas europeias que consomem ligas de alumínio.

Ações políticas europeias neutralizadas

A Europa sofre com dependências em várias frentes, não só de produtos que chegam da China. Um exemplo clássico e recorrente, é a questão do gás natural russo, que neutraliza qualquer ação política de países da Europa de criticarem, questionarem e até retaliarem ações russas na Ucrânia, Belarus e outros países do mundo. Isso retira, paulatinamente, a influência da União Europeia como ator político relevante na diplomacia global. 

Naturalmente, o impacto não recai apenas na indústria automobilística. Afeta também a indústria de aviação civil entre outras. Enquanto a União Europeia traça uma estratégia de curto prazo, uma de longo prazo também vem sendo analisada para diminuir o impacto negativo das variações produtivas da China. A superdependência de um produto específico em cima de um único país, faz com que as políticas tomadas em Pequim sejam infinitamente mais relevantes para as indústrias afetadas na Europa, do que as políticas desenhadas por Bruxelas e suas próprias capitais.