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Na França, Didier Raoult, o 'Dr. Cloroquina', se envolve em nova polêmica

Médico francês Didier Raoult que faz estudos do uso da cloroquina contra o novo coronavírus covid-19 - Reprodução/Twitter
Médico francês Didier Raoult que faz estudos do uso da cloroquina contra o novo coronavírus covid-19 Imagem: Reprodução/Twitter

29/10/2021 12h58Atualizada em 29/10/2021 13h47

O polêmico diretor do Hospital Universitário (IHU) de Marselha, Didier Raoult, conhecido como Dr. Cloroquina, está mais uma vez em evidência. O site investigativo francês Mediapart revela que o professor Raoult teria conduzido experimentos selvagens em pacientes com tuberculose. O hospital desmentiu os ensaios clínicos, mas a Justiça anunciou na quinta-feira (28) que dará seguimento ao caso, após uma ação legal da agência de medicamentos.

Em um vídeo que ele mesmo postou, Didier Raoult nega qualquer pesquisa sobre tuberculose. Após as denúncias do Mediapart, a Assistência Pública dos Hospitais de Marselha (AP-HP) lançou uma investigação interna. Ao mesmo tempo, essas acusações preocupam as associações de pacientes.

Em 22 de outubro, o site de notícias Mediapart afirmou que o Hospital de Marselha vinha realizando "um experimento selvagem contra a tuberculose" desde 2017, um experimento que "teria" causado graves complicações em vários pacientes, incluindo um menor.

De acordo com Mediapart, que cita vários funcionários do Hospital em condição de anonimato, além de relatórios de internação, as equipes do IHU testaram uma combinação de quatro medicamentos cuja eficácia conjunta nunca havia sido avaliada contra esta doença infecciosa.

Diante da "gravidade e da extensão potencial dos fatos denunciados", a AP-HM, da qual depende o IHU, lançou uma investigação no mesmo dia.

Na quarta-feira (27), ela confirmou que "alguns" dos pacientes tratados para tuberculose com a combinação de antibióticos citada tinham "complicações renais" e "pelo menos uma das quais exigia cirurgia".

A AP-HM especificou que havia efetivamente recebido um "protocolo de pesquisa sobre esta combinação de antibióticos" em agosto de 2019, mas que este havia sido retirado um mês depois "diante das ressalvas expressas da Agência Nacional de Segurança de Medicamentos (ANSM)", responsável, na França, por autorizar pesquisas envolvendo seres humanos.

No entanto, "na ausência de um ensaio aberto e apesar das reservas expressas pela agência de medicamentos, o Hospital Universitário de Marselha continuou a fornecer esses tratamentos", disse o porta-voz da AP-HM.

Raoult nega

Para a tuberculose sensível, o IHU apresentou dois projetos de pesquisa "para encurtar o tratamento", mas "não o aplicamos logo que tivemos o parecer da ANSM", disse Didier Raoult na quinta-feira (28) à noite no canal de televisão por assinatura C8.

Assim, para o professor Raoult, que reservou a sua reação a este canal privado, "não houve testes, apenas opções terapêuticas por parte dos médicos".

A ANSM disse, na véspera, que havia encomendado uma fiscalização no IHU: "De acordo com as nossas investigações iniciais, consideramos que certos estudos deviam ter sido realizados de acordo com a legislação que rege a pesquisa em seres humanos (...). Isso não é admissível".

A Agência informou à Promotoria de Marselha, que não abriu uma investigação em seguida, mas fez uma "primeira avaliação".

Na segunda-feira, Didier Raoult afastou as acusações contra sua equipe, estimando no Twitter que "as últimas 'revelações' são uma tempestade em um copo d'água".

Na quinta-feira, o chefe do pólo de doenças infecciosas e tropicais do IHU, Prof. Philippe Brouqui, por sua vez garantiu que os tratamentos utilizados no IHU "são todos com fármacos anti-tuberculose reconhecidos".

Ele afirma que, entre 2017 e 2021, o IHU teve um grupo de 17 pacientes com tuberculose resistente ou com fatores de risco para resistência, e desse grupo tratado com uma combinação de antibióticos, "apenas um morreu de câncer terminal".

Ao mesmo tempo, "dos 96 doentes tratados com os tratamentos convencionais anti-tuberculose (...) ocorreram 13 mortes", defende o professor Brouqui, que também se diz "feliz" com a abertura de inquérito para apurar também "quem encaminhou" os prontuários dos pacientes para a imprensa.

O IHU e Raoult tiveram uma grande cobertura da mídia no início da pandemia de Covid-19, defendendo a hidroxicloroquina como tratamento, apesar da falta de efeito comprovado.

Didier Raoult, aposentado como professor universitário e médico hospitalar, deve deixar a chefia do IHU até final de junho de 2022.

De acordo com a OMS, cerca de 1,5 milhão de pessoas morreram em 2020 de tuberculose, a segunda doença infecciosa mais letal do mundo, depois da Covid-19.

*Com AFP e France Info