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Eleições no Chile colocam em xeque sistema político desde redemocratização, diz cientista político

22/11/2021 15h05

Um segundo turno polarizado começa a tomar forma no Chile, após o candidato da extrema direita José Antonio Kast derrotar o representante da coalizão de esquerda, Gabriel Boric, no primeiro turno da eleição presidencial realizada no domingo (21), segundo mostram resultados provisórios. O professor de Relações Internacionais e cientista político da UERJ, Mauricio Santoro, comenta as particularidades do voto no Chile.

Dois candidatos do lado oposto do espectro político, José Antonio Kast, da extrema direita, e Gabriel Boric, da esquerda, se classificaram no domingo (21) no Chile para o segundo turno das eleições presidenciais, confirmando o declínio dos partidos tradicionais dois anos após a revolta social que levou a intensos protestos nas ruas.

Segundo resultados quase definitivos (95,58% das cédulas), José Antonio Kast, ex-deputado e advogado de 55 anos, obtém 27,95% dos votos, à frente de Gabriel Boric, ex-líder estudantil e deputado de 35 anos, que recebeu 25,71% dos votos.

"Encontraremos paz, ordem, progresso e liberdade", declarou diante de centenas de apoiadores o líder do Partido Republicano (de extrema direita). Kast é admirador do presidente brasileiro Jair Bolsonaro e do norte-americano Donald Trump.

Para Mauricio Santoro, professor de Relações Internacionais e cientista político da UERJ, "mais do que a página de [Sebastián] Piñera, o que está sendo virado agora no Chile é todo o sistema político que vinha desde a redemocratização, nos últimos 30 anos do país". "Houve uma alternância no poder entre partidos de esquerda ou direita muito moderados no Chile, e agora o sistema foi sacudido", avalia.

"Há um recado dos eleitores muito claro, de descontentamento com a política tradicional, seja pela via da extrema direita, como é a ascensão do José Antônio Kast, seja pela escensão de uma nova esquerda, representada pelo Gabriel Boric. O terceiro colocado, Franco Parisi, teve um desempenho surpreendente, com 12% dos votos, o que também representa uma demanda populista no Chile muito forte", diz Santoro.

"Volatilidade"

"A eleição no Chile está sendo marcada por uma volatilidade muito alta, com muitos imprevistos, e representa uma cautela para todos os analistas do segundo turno", acredita Santoro. "No entanto, existem alguns sinais muito fortes, um deles é de que a opinião pública chilena guinou para a direita, não apenas por causa do primeiro colocado, o Kast, mas também por causa do sucesso de candidatos da direita tradicional, como o Franco Parisi", afirma.

"Existe um dado importante para a esquerda chilena, que foi o crescimento muito grande do voto conservador junto aos mineiros do país, que tradicionalmente era um bastião da esquerda, dos sindicatos e dos candidatos progressistas no Chile. Houve ali uma mudança muito significativa e ainda estamos tentando entender o que aconteceu", diz. "Um dado curioso é que apesar do descontentamento com a política tradicional no Chile, um dos partidos mais votados foi o 'Renovação Nacional' do ex-presidente Piñera", aponta.

Para ouvir a entrevista na íntegra clique no podcast acima.