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União Europeia anuncia pacote de quase R$ 2 trilhões para conter influência da China no mundo

02/12/2021 16h44

A União Europeia (UE) anunciou nesta quarta-feira (1°) um ambicioso plano para investir até € 300 bilhões (cerca de R$ 1,9 trilhão) de fundos públicos e privados até 2027 em projetos de infraestrutura pelo mundo. O objetivo é conter a influência global da China. 

Desde que o governo chinês lançou, em 2013, o projeto batizado de "Novas Rotas da Seda", o mundo vem assistindo a uma expansão do gigante asiático em várias áreas. O programa, marco da administração do presidente Xi Jinping, visa desenvolver infraestrutura terrestre e marítima para conectar melhor a China com a Ásia, Europa e África. Resultado: atualmente locais como o porto de Pireus na Grécia, Trieste na Itália,ou ainda Djibouti, na Etiópia, são controlados por empresas chinesas. O mesmo acontece com linhas ferroviárias que atravessam parte do continente africano, transportando mercadorias fabricadas na China para esses mesmos portos. 

Os países ocidentais consideram o plano uma ferramenta para expandir a influência da China sobre os países em desenvolvimento e acusam Pequim de incitar licitações não transparentes a um endividamento exacerbado. Além disso, os ocidentais suspeitam de práticas corruptas e denunciam violações dos direitos humanos, sociais e ambientais.

Para tentar conter essa expansão chinesa, a União Europeia lançou o programa Global Gateway. A iniciativa reunirá recursos próprios da UE, dos 27 Estados-membros, instituições financeiras europeias e entidades dedicadas ao desenvolvimento, além de fundos do setor privado. "Os investimentos nos setores digital, de saúde, clima, energia e transportes, além de educação e pesquisa, serão uma prioridade", afirmou a Comissão Europeia em nota oficial. 

Investimentos para todos?

O valor prometido por Bruxelas é o dobro do que já foi investido por Pequim até agora nas suas "Novas Rotas da Seda". Mas para Mary-Françoise Renard, professora da Escola de Economia de Universidade francesa da Auvergne, o montante do investimento não é o mais importante. A especialista, que dirige o Instituto de pesquisa sobre a economia da China no CERDI (Centro de Estudos e Pesquisas sobre o Desenvolvimento Nacional) explica que o ponto principal "é saber como esses projetos [financiados pela UE] serão implementados". 

Ela lembra que no passado investimentos foram feitos em países em desenvolvimento, principalmente na África, mas que muitas vezes eles beneficiavam apenas as empresas dos investidores - como a construção de estradas entre galpões e zonas de produção, por exemplo. "Sendo um pouco idealistas, poderíamos desejar que a Europa financie investimentos que são do interesse geral, e não apenas de alguns".

Agradar os americanos? 

A União Europeia já havia tentado lançar um projeto do gênero em 2018, mas a ideia não teve sucesso. "A iniciativa não teve apoio político, pois foi considerada como uma ingerência do funcionamento dos mercados", explica a professora. 

Mas há quem questione se o anúncio do lançamento do Global Gateway este ano não seria uma maneira de os europeus se colocarem do lado dos Estados Unidos, em um momento em que Washington avança em uma verdadeira guerra comercial contra Pequim. "Sem dúvidas, não é independente do que acontece nos Estados Unidos, pois sabemos que Washington deseja uma frente única junto com a Europa", explica a economista. "Mas a Europa tem interesse em defender sua própria estratégia. Mesmo se é verdade que tudo que os europeus fizerem para limitar o desenvolvimento da China e a tomada de poder dos chineses em alguns países vai com certeza agradar o governo norte-americano", analisa.