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Grécia: condições de migrantes em Lesbos melhoram com chegada do Papa Francisco

04/12/2021 12h26

Depois de uma primeira escala no Chipre, o Papa Francisco inicia neste sábado (4) uma passagem de três dias pela Grécia, que será marcada em especial por uma visita a Lesbos neste domingo (5). Esta será a segunda visita do pontífice - a primeira foi em 2016 - a esta ilha símbolo dos fluxos migratórios, que acolheu o campo de Moria, por muito tempo o maior da Europa, destruído por um incêndio em setembro de 2020.

Por Joël Bronner, correspondente especial da RFI em Lesbos

Não por um acaso, nos últimos dias, as condições de acolhimento no campo temporário, que substituiu o de Moria, foram parcialmente melhoradas, pouco antes da visita simbólica e midiática do Papa. Em Lesbos, apesar da situação de precariedade, muitos migrantes se mostram animados com a visita. Situação descrita, por exemplo, por Marion Bouchetel da ONG Legal Center Lesbos: "Muitas tendas foram substituídas. As grandes tendas, que abrigavam de 80 a cem pessoas e que pegaram fogo, foram retiradas. Há muitas obras e limpezas em andamento. Mas isso não representa a realidade e as condições de vida que são impostas às pessoas nesses campos".

Na opinião de George Pallis, um ex-deputado e farmacêutico, que conversa com frequência com os habitantes da capital da ilha de Mitilene, esta vinda do pontífice não deve causar mais do que mudanças superficiais e não gera grandes expectativas. "Na primeira vez, quando o Papa veio, o clima era diferente, as pessoas esperavam por mudança. Desta vez, o entusiasmo não é o mesmo."

Se por um lado o Papa Francisco voltará à ilha de Lesbos, por outro, esta é a primeira vez que um papa visita Atenas em 20 anos, desde a visita de João Paulo II em maio de 2001.

Europa dilacerada por egoísmos nacionalistas

O Papa Francisco destacou neste sábado a responsabilidade da Europa na crise migratória e criticou que "a comunidade europeia, dilacerada por egoísmos nacionalistas, por vezes parece bloqueada e descoordenada, em vez de ser um motor de solidariedade".

O pontífice argentino, de 84 anos, lamentou que "a Europa persista em procrastinar" diante das chegadas de migrantes. Ele falou diante da presidente da República helênica, Katerina Sakellaropoulou, do primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, e perante uma plateia de figuras católicas e da sociedade civil que o aplaudiram calorosamente no Palácio Presidencial de Atenas.

No Chipre, ele já havia atacado fortemente "o muro do ódio" erguido contra os migrantes. Mas em Atenas, o pontífice destacou que algumas ilhas da Grécia chegaram a "receber um número de irmãos e irmãs migrantes maior do que o próprio número de habitantes".

Poucos minutos antes, a presidente Sakellaropoulou havia mencionado o senso de "humanidade dos gregos e o fardo desproporcional que suportaram" na gestão desta crise. "Nosso país está tentando ao máximo prevenir o tráfico ilegal de pessoas", disse ela.

A presidente da Grécia também agradeceu ao Papa pelo "caloroso apoio" durante a conversão da antiga basílica de Santa Sofia de Istambul em mesquita, a fim de "preservá-la como símbolo universal do culto religioso e monumento emblemático do patrimônio mundial".

O Papa acrescentou ainda que está em Atenas "para matar a sede nas fontes da fraternidade" e para fortalecer os laços com seus "irmãos da fé", os cristãos ortodoxos, separados da Igreja Católica desde a ruptura de 1054 entre Roma e Constantinopla.

Fanáticos anticatólicos

Cerca de 900 policiais devem ser destacados durante sua viagem à ilha de Lesbos e ao redor do acampamento erguido às pressas após o incêndio de setembro de 2020 que destruiu a estrutura de Moria, visitada pelo Papa há cinco anos.

Drones e veículos blindados cortam as estradas. A capital também está sob segurança máxima até a saída do pontífice no final da manhã de segunda-feira (6), em atenção a possíveis manifestações de hostilidade.

Mesmo que o clima atualmente seja melhor do que em 2001, durante a primeira visita de um papa à Grécia, há, dentro do sínodo grego, "alguns conhecidos fanáticos anticatólicos", disse à AFP Pierre Salembier, superior da comunidade jesuíta na Grécia.

Todo tipo de aglomeração foi proibido no centro de Atenas, sobrevoado por helicópteros. São esperados até 2 mil policiais em caso de protestos de fundamentalistas ortodoxos. Há 20 anos, João Paulo II pediu "perdão" pelos pecados dos católicos contra os ortodoxos, em referência ao saque de Constantinopla em 1204.

(E com informações da AFP)