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Indústria do cigarro busca estratégia para contornar recuo do tabagismo no mundo

Efeito negativo do fumo no organismo é um fato e isso teve um impacto real no consumo - VioletaStoimenova/iStock
Efeito negativo do fumo no organismo é um fato e isso teve um impacto real no consumo Imagem: VioletaStoimenova/iStock

04/12/2021 07h52

A revista francesa L'Express desta semana traz uma reportagem sobre as estratégias adotadas pelos gigantes da indústria do tabaco para tentar reconquistar aqueles que deixaram de fumar. As empresas do setor passaram a admitir os efeitos nocivos do tabagismo e agora investem em projetos apresentados como alternativas para o fumo.

O efeito negativo do fumo no organismo é um fato e isso teve um impacto real no consumo. Se em 1991 mais de 30% dos jovens de 16 fumavam na França, em 2019 eles eram apenas 12%, detalha a reportagem. A revista explica que, além dos estragos ligados à saúde, a imagem glamorosa do cigarro praticamente desapareceu e "os espaços que toleram os fumantes são cada vez mais restritos".

Mas os gigantes do tabaco não estão prontos para jogar a toalha e adaptaram sua retórica. Jacek Olczak, o presidente do grupo Philip Morris, líder mundial do setor e dono marcas como Marlboro, disse que "chegou a hora de ser realista e acompanhar os fumantes na direção de produtos que representem menos riscos".

O executivo, assim como outros players do setor, entendeu que não adianta mais defender o consumo de cigarro ou ocultar seus efeitos nefastos, como já foi o caso no passado. Ele e os demais procuram agora alternativas para continuarem lucrando, mas desta vez com as novas formas de fumar.

Cigarro eletrônico e cannabis

Um dos fenômenos que ajudou nessa evolução foi o surgimento dos cigarros eletrônicos. Após um período de resistência, o objeto passou a ser adotado principalmente pelos jovens. Visando esse público, os gigantes do tabaco começaram a investir no setor, como a empresa francesa Seita, conhecida por fabricar as Gauloises e as Gitanes, duas marcas de cigarro populares no passado, que lançou em 2018 seu próprio modelo de cigarros eletrônicos. A Philip Morris também lança seu produto em breve.

Outros estão investindo na tecnologia do "heat not burn", um dispositivo no qual o tabaco é aquecido por meio de eletricidade e, como não há combustão total, o produto liberaria menos substâncias tóxicas. A Philip Morris também já se lançou na aventura, com um aparelho que aceita apenas os refis da própria empresa, em uma estratégia visando afastar os concorrentes.

Os defensores desse sistema alternativo de combustão afirmam que o produto emite entre 90% e 95% menos de substâncias nocivas se comparado com os cigarros tradicionais. Porém, a OMS já alertou que não existem nenhuma prova de diminuição dos riscos para a saúde humana.

"Mas os gigantes do tabaco não estão dispostos a apostar todas as suas cartas em um mesmo projeto e já começaram a investir paralelamente em outro mercado bastante promissor: o da cannabis", relata a revista. A British American Tobacco, dona da marca Lucky Strike, comprou 20% das ações de uma empresa canadense especialista na produção de cannabis para uso medicinal ou recreativo, enquanto a Philip Morris investe desde 2016 em um grupo israelense que concebeu um aparelho contra a dor que mistura CBD e THC, as moléculas da cannabis.

No entanto, algumas empresas também decidiram comprar laboratórios farmacêuticos especializados em produtos de substituição para o tabaco, como gomas de mascar e comprimidos, ou ainda fabricantes de inaladores para pessoas asmáticas. Esses projetos são violentamente criticados pelas associações antitabagismo, que acusam os gigantes do setor do tabaco de tentarem, ao mesmo tempo, "vender o veneno e o antídoto", conta a revista francesa L'Express.