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Bernardo Lobo e Pablo Lapidusas apagam as fronteiras geográficas com álbum "Zambujeira"

06/12/2021 13h22

Os músicos Bernardo Lobo e Pablo Lapidusas acabaram de lançar o álbum "Zambujeira", um projeto instrumental, que sai pela gravadora Biscoito Fino. O disco foi totalmente realizado durante a pandemia, com seus participantes vindos de vários países. Em entrevista à RFI, os dois artistas falam sobre o processo de criação e a relação com Portugal, onde vivem atualmente.

Zambujeira de Baixo é o nome de uma localidade praticamente desconhecida na região da Algarve, no sul de Portugal. Foi nesse reduto de paz que o brasileiro Bernardo Lobo e o argentino de alma brasileira Pablo Lapidusas se encontraram, em plena pandemia, para falar de música e, rapidamente, decidiram fazer um novo álbum.

Os dois artistas, que já haviam trabalhado juntos em outras ocasiões, se lançaram em um projeto ambicioso, envolvendo profissionais de vários países, apesar do contexto sanitário que tornava praticamente impossível viajar.

Mas a pandemia e uma boa pitada de tecnologia acabaram ajudando para que os compositores apagassem as fronteiras geográficas e avançassem juntos, mas à distância. "Trabalhamos via Zoom e via Whatsapp", conta Lobo. "Foi um pouco caótico, mas no bom sentido. Sem um planejamento prévio", se lembra Lapidusas.

"Era um processo um pouco 'Clube da Esquina', onde cada um trazia uma ideia e já experimentávamos. E o fato de termos gravado cada um na sua casa e não em estúdio também possibilitou isso, pois podíamos testar, errar... O álbum se deu dessa maneira", continua Lapidusas.

O resultado está em oito faixas que reúnem convidados de peso, como o brasileiro Jaques Morelembaum - que participa no título "Além Mar", os cabo-verdianos Miroca Paris e Rolando Semedo, ou ainda o produtor musical brasileiro radicado em Nova York, Alexandre Vaz. Sem esquecer a artista portuguesa Maria João, que transformou a sua voz em verdadeiro instrumento musical na faixa "Longe do Rio, Perto do Tejo". "A participação da Maria João foi quase uma escolha unânime. Ela é um gigante da música", elogia Lapidusas.

Esse diálogo entre Brasil em Portugal foi uma constante no projeto. Como explica Lobo, um dos pontos de partida do álbum foi "a nossa relação de imigrante, de morador de Portugal, e do oceano que separa os dois países".

Assim como Lapidusas, Lobo vive há anos em terras portuguesas, onde encontrou seu público, distante da sombra do pai, Edu Lobo. "Minha relação com ele sempre foi de muita troca. Mas meu pai foi muito legal, pois nunca quis interferir na minha carreira. Ele sempre achou que a melhor maneira de fazer minha carreira era buscar minhas coisas sozinho, e foi o que eu fiz desde o início", explica, mesmo se confessa que o fato de ter colocado a música "Estradas" para abrir o disco foi fruto de um "pitaco" do mestre. 

Já Lapidusas afirma encontrar em Portugal uma abertura rara para os músicos internacionais. "O Brasil, apesar de ser um país muito acolhedor, é um pouco fechado para a música estrangeira. Absorve muita música americana e a sua própria música", desabafa. "Já Portugal e a Europa de modo geral é muita aberta para música de fora. Eu aqui acabo recebendo a influência direta ou indiretamente e isso com certeza levou [a minha] música para outro lugar".

Assista a entrevista completa clicando na foto acima.