Livro sobre traição de Anne Frank revela investigação séria, mas conclusão exige cautela
O lançamento na França do livro sobre a traição de Anne Frank ("Qui a trahi Anne Frank", título em francês), da escritora canadense Rosemary Sullivan, recebeu vários comentários na imprensa semanal. A obra relata as conclusões de uma extensa investigação dirigida por um ex-agente do FBI, Vincent Pankoke.
À frente de uma equipe de 30 pessoas, que trabalhou durante cinco anos no caso, Pankoke defende que o esconderijo da família da adolescente judia em Amsterdã foi delatado à polícia nazista, em 1944, por um tabelião também judeu, Arnold Van der Bergh. Ele teria traído a família de Anne Frank para salvar a própria família.
Segundo a revista "M" do jornal Le Monde, a investigação é séria e a descoberta significativa, mas uma certa cautela é necessária. A publicação francesa recorda o histórico de documentários e livros já publicados sobre o caso, inclusive uma outra investigação recente, de 2016, solicitada pela Casa de Anne Frank em Amsterdã, que concluiu que a família dela foi descoberta por acaso pelos nazistas, após buscas da polícia relacionadas com um tráfico de tíquetes de racionamento e empregos ilegais.
A revista Le Point também traz trechos do livro de Rosemary Sullivan, com declarações da autora. De acordo com a canadense, "a grande inovação da nova investigação foi usar a inteligência artificial". Pankoke se juntou a uma equipe de pesquisadores holandeses em junho de 2016, "movidos pelo impulso de quem rastreia um assassino com métodos contemporâneos do FBI". Para chegar ao delator, psicólogos, grafologistas e outros especialistas fizeram estudos de comportamento, levantamento de perfis, pesquisas de DNA, datação por carbono, análise de impressões digitais, reconhecimento de voz, triangulação e peneiraram as informações com algoritmos.
"Arquétipo da vítima"
Mas, afinal, por que Anne Frank continua tão popular? Para a historiadora francesa Annette Wieviorka, especialista no Holocausto ouvida pela revista M, além do talento para escrever atribuído à adolescente, "Anne Frank se tornou o arquétipo da vítima, que pode ser associado a todas as vítimas de qualquer tipo de crime".
O aspecto misterioso de seu desaparecimento alimenta o imaginário das pessoas e o mito, declara a historiadora. Além disso, a Casa de Anne Frank em Amsterdã mantém viva a memória do caso. "O fetiche é acionado para evitar o esquecimento", avalia Annette Wieviorka.
A reportagem da "M" também ouviu a opinião de Lola Lafon, escritora francesa que prepara um livro sobre Anne Frank. Ela diz que o grande desafio, quando se trata da jovem, "não é chamar a atenção para os autores, mas sim tentar entender o símbolo que ela representa". "Seria [o símbolo] do Holocausto, da adolescência, da escrita, do feminismo?", pergunta Lola Lafon.
A resposta virá nas páginas desse novo livro dedicado ao caso de Anne Frank, com lançamento previsto na França no segundo semestre do ano.
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