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França: cirurgião tenta vender radiografia de vítima de atentado no Bataclan

23/01/2022 14h38

A APHP, rede de saúde que reúne e gerencia os hospitais públicos de Paris, vai entrar na Justiça contra um cirurgião que tentou vender a radiografia de uma jovem ferida no Bataclan, um dos locais atacados por terroristas nos atentados de 13 de novembro de 2015.

A revelação foi feita neste sábado (22) no site do jornal Mediapart. A decisão de processar o renomado cirurgião ortopédico Emmanuel Masmejean foi anunciada pelo diretor dos hospitais parisienses, Martin Hirsch, em um post publicado no Twitter.

Em outra mensagem, desta vez enviada aos funcionários, ele denuncia um "ato escandaloso cometido por um cirurgião, professor de universidade, e médico do hospital europeu Georges Pompidou". "Ficamos a par através da imprensa", diz Hirsch.

O diretor dos hospitais públicos parisienses classificou o comportamento de "odioso", "contrário à deontologia" e questiona a quebra do sigilo médico, "que fere os valores da APHP e do serviço público". Além de atacar o especialista na justiça comum, ele também pretende denunciá-lo ao Conselho Federal de Medicina francês.

De acordo com a reportagem publicada no jornal Mediapart, o cirurgião tentou leiloar a radiografia no site OpenSea, especializado na venda de objetos "NFT". A tecnologia é definida como um criptoativo digital que pode ser comercializado e utiliza códigos numéricos que permitem sua transferência, mas não sua reprodução.

A radiografia foi feita durante o atendimento de uma sobrevivente do ataque à casa de shows Bataclan. A paciente foi operada pelo cirurgião francês.

De acordo com o Mediapart, a imagem podia ser comprada por U$S 2.776, o equivalente a R$ 15 mil. Ela ainda estava disponível no OpenSea neste domingo (23). Embaixo da foto que propõe o "produto", o médico explica que a vítima "perdeu seu namorado no ataque e tinha uma fratura exposta no antebraço esquerdo, com uma bala de kalachnikov encravada nos tecidos cutâneos".

O cirurgião reconheceu os fatos e explicou que sua intenção era "pedagógica". Ele afirma que questionou seu ato do ponto de vista "ético", e reconhece que "errou" ao não ter pedido autorização para a paciente.

Associação reage a escândalo

A principal associação de vítimas do 13 de novembro, "Life for Paris", disse em um comunicado que "defenderá a vítima do atentado, que hoje também é vítima da ganância de um médico que se esqueceu do código de deontologia e não tem nenhum bom senso ou empatia, nem que seja a mais elementar", diz o texto. Outra associação, "Fraternidade e Verdade", reagiu no Twitter denunciando um ato "odioso" que não representa o trabalho dos profissionais de saúde, em quem temos toda a confiança".

Em 13 de novembro de 2015, a França viveu os piores ataques terroristas de sua história, reivindicados pelo grupo Estado Islâmico. Os atentados, contra a casa de shows Bataclan, bares e restaurantes de Paris, e perto do estádio de Saint Denis, deixaram 130 mortos e mais 350 feridos.

Desde 8 de setembro, a França também acompanha o processo dos 20 acusados nos atentados.  Eles estão sendo julgados no Palácio da Justiça da capital. Desse total, 14 estiveram ou estarão presentes no tribunal, incluindo Salah Abdeslam, único sobrevivente do grupo que perpetrou os ataques em diferentes locais na capital francesa.

Onze deles estão presos e três vão responder em liberdade. Seis são considerados mortos, mas terão julgamento póstumo. 

(Com informações da AFP)