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Com três assassinatos em apenas um mês, 2022 começa violento para jornalistas no México

24/01/2022 17h48

O presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador lamentou nesta segunda-feira (24) a morte da jornalista Lourdes Maldonado. Em menos de um mês, além de Maldonado, outros  dois profissionais da imprensa foram assassinados: Alfonso Margarito Martínez Esquivel y José Luis Gamboa Arenas. O país ocupa a posição 143 de uma lista de 180 países no ranking "Liberdade de Imprensa no Mundo", publicado anualmente pela organização Repórteres Sem Fronteiras. 

Larissa Werneck, correspondente da RFI no México

Na noite deste domingo (23), a jornalista independente Lourdes Maldonado foi encontrada morta a tiros dentro de um carro na cidade de Tijuana, localizada na fronteira entre México e Estados Unidos. A morte violenta era um medo com o qual ela convivia há alguns anos, já que se sentia ameaçada por causa de uma ação trabalhista contra o canal de televisão PSN, que pertencia ao então governador do estado de Baja Califórnia, Jaime Bonilla.

Em março de 2019, ela fez um apelo ao presidente Andrés Manuel López Obrador, durante uma conferência de imprensa. "Venho aqui pedir apoio, ajuda e justiça, pois temo pela minha vida. Ele é um personagem forte na política, que não pretende me pagar e que entrou com mandado de segurança contra mim", disse a jornalista na ocasião. 

Em 2021, ela passou a fazer parte do Mecanismo de Proteção a Jornalistas e Defensores dos Direitos Humanos, do governo do México. No entanto, a proteção oferecida não foi suficiente. 

O presidente mexicano lamentou a morte da jornalista, mas disse que é precipitado veicular a morte de Lourdes Maldonado a questões trabalhistas. "É muito triste o que aconteceu com a nossa companheira. Enviamos em primeiro lugar nossos pêsames aos familiares. Mas não podemos tirar conclusões precipitadas automaticamente. Vamos investigar, verificar se tem relação com a demanda trabalhista e descobrir quem são os responsáveis.", afirmou López Obrador. 

Crimes ocorreram com uma semana de intervalo

Foi também em Tijuana que o fotojornalista policial, Alfonso Margarito Martínez Esquivel, morreu baleado perto de casa, no dia 17 de janeiro. Ele trabalhava para veículos de imprensa nacionais e internacionais. Segundo a organização Repórteres sem Fronteiras, Alfonso Esquivel sofria ameaças constantes de grupos criminosos locais e da polícia. Em dezembro de 2021, ele foi intimidado na rua e, desde então, solicitou proteção ao estado de Baja Califórnia, mas o pedido não foi aceito. Ele pediu, também, para entrar no mecanismo de proteção federal, mas, segundo a RSF, ainda não estava oficialmente incorporado ao programa. 

Uma semana antes, no dia 10 de janeiro, o jornalista independente José Luis Gamboa Arenas foi encontrado morto a punhaladas no estado de Veracruz, a alguns metros da sua casa. Ele era diretor do jornal semanal El Regional del Norte e realizava reportagens contra o crime organizado e a violência. No dia do crime ele publicou no seu canal do YouTube o vídeo "A guerra contra a Narcopolítica". 

Sete jornalistas assassinados em 2021

Além da crueldade, os crimes do início do ano chamam atenção também porque juntos são quase a metade do total de assassinatos de jornalistas ocorridos no México em 2021.

No ano passado, sete jornalistas mexicanos foram mortos, o que colocou o país, pelo terceiro ano consecutivo, como o mais perigoso para a imprensa ao lado do Afeganistão, de acordo com a organização Repórteres Sem Fronteiras. Somente entre 2016 e 2021 foram 47 crimes. Além disso, no ranking "Liberdade de Imprensa no Mundo", publicado anualmente pela RSF, o México ocupa a posição 143 de uma lista de 180 países.

"2022 começou com um banho de sangue no jornalismo mexicano", lamentou o diretor do escritório da RSF na América Latina, Emmanuel Colombié, no site da organização. "Esses assassinatos, cometidos com apenas uma semana de intervalo, anunciam mais um ano sangrento para a liberdade de imprensa no país. No entanto, essa violência que atinge os jornalistas e a impunidade não devem ser consideradas uma mera fatalidade. As autoridades federais e a polícia de Veracruz e de Baja Califórnia devem fazer tudo o que estiver ao seu alcance para identificar e prender os autores dessas execuções covardes. Os mecanismos de proteção também devem ser fortalecidos", afirmou Emmanuel.