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Prêmio Nobel da Paz, Ramos-Horta será candidato à presidência do Timor Leste aos 72 anos

24/01/2022 14h47

O prêmio Nobel da Paz José Ramos-Horta anunciou nesta segunda-feira (24) sua candidatura à presidência do Timor Leste, país que ele defendeu do exílio ao longo de 25 anos após a invasão indonésia. Aos 72 anos, Ramos-Horta tentará chegar ao poder pela segunda vez. Ele foi presidente do país asiático entre 2007 e 2012.

Com informações de Miguel Martins, da RFI.

A vida de Ramos-Horta está intrinsecamente ligada à luta pela independência do Timor Leste. Durante sua adolescência, quando o país ainda era uma colônia portuguesa. Em 1975, quando a resistência timorense declarou independência, ele foi nomeado Ministro das Relações Exteriores com apenas 25 anos.

Poucos dias após a mudança política, o país foi invadido pela Indonésia sob o comando do ditador Suharto. A partir de então, Ramos-Horta conheceria uma vida de exílio, primeiro na Austrália e depois nos Estados Unidos, onde se tornaria a voz de seu povo no exterior. 

Ao longo de décadas, Ramos-Horta se tornou um rosto conhecido na sede das Organizações das Nações Unidas em Nova York, onde incansavelmente lutou pelo reconhecimento dos crimes de guerra cometidos pelo exército indonésio no Timor.

Em 1996, ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz e, três anos depois, quando a Indonésia teve de ceder o poder diante da pressão internacional, ele voltou ao país. 

Um candidato histórico para evitar a reeleição

Após liderar o país entre 2007 e 2012, Ramos-Horta volta a fazer uma campanha presidencial representando o partido CNRT (Congresso Nacional da Reconstrução Timorense), do antigo primeiro-ministro Xanana Gusmão. Quatro anos antes, ele havia apoiado nas eleições legislativas o partido rival, que hoje tem a presidência, a Fretilin (Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente). 

A apenas dois meses da eleição, Ramos-Horta alega ter se convencido devido aos muitos pedidos que teria recebido nos últimos meses para que voltasse à presidência. O Timor Leste vive um clima de contestação política devido a uma crise no Parlamento.

"Não procurei e não procuro o poder. Não procuro fama ou bens materiais. Decidi, depois de meses de reflexão quando fui recebendo tanto e tantos apelos e solicitações de todo o país. Decidi aceitar concorrer por esta única razão: não defraudar os apelos, as expectativas e as esperanças de tanta gente simples, espalhada pelo país", afirmou em entrevista à RFI.

Nas eleições marcadas para 19 de março, o prêmio Nobel da Paz terá de desbancar o presidente Francisco Guterres, conhecido como Lu Olo, que tenta reeleição.

O CNRT já manifestou o interesse de dissolver o Parlamento e chamar eleições legislativas antecipadas, caso Ramos-Horta ganhe as eleições. 

Questionado sobre esta hipótese, Ramos-Horta respondeu não ver nada de extraordinário no fato de, como em qualquer país, os partidos terem "sua agenda". No entanto, afirmou que, se eleito, vai primar pelo diálogo e seguir a Constituição.

"Saberei sempre, como foi entre 2007 e 2012, manter equidistância em relação aos partidos políticos. Observar com rigor o que rege a Constituição, manter a minha credibilidade como pessoa aberta ao diálogo, sempre em busca de soluções pacíficas para quaisquer tensões", completou.