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Em ano eleitoral, Le Figaro considera visita de Bolsonaro à Rússia "intrigante"

16/02/2022 11h08

"Mas o que faz Bolsonaro na Rússia?", questiona a reportagem publicada nesta quarta-feira (16) na edição impressa do jornal francês Le Figaro. O diário considera no mínimo "intrigante" que o presidente brasileiro esteja na Rússia em um momento em que os países ocidentais ainda temem que a situação na Ucrânia acabe em um conflito armado. E levanta suspeitas sobre os reais interesses de Bolsonaro nessa aproximação com o líder russo, Vladimir Putin, depois de perder o "patrocínio" de Donald Trump.

"Mas o que faz Bolsonaro na Rússia?", questiona a reportagem publicada nesta quarta-feira (16) na edição impressa do jornal francês Le Figaro. O diário considera no mínimo "intrigante" que o presidente brasileiro esteja na Rússia em um momento em que os países ocidentais ainda temem que a situação na Ucrânia acabe em um conflito armado. E levanta suspeitas sobre os reais interesses de Bolsonaro nessa aproximação com o líder russo, Vladimir Putin, depois de perder o "patrocínio" de Donald Trump.

Oficialmente, o foco da visita não é a crise ucraniana, e sim a importação de fertilizantes russos, informa o Le Figaro. O jornal recorda que "a diplomacia brasileira tem uma longa tradição de equilíbrio entre as grandes potências". Mas é "o símbólico aperto de mãos entre os dois líderes autoritários que causa controvérsia" e suscita interrogações sobre os verdadeiros motivos desta viagem do presidente brasileiro à Rússia e à Hungria.

Depois de Moscou, "Bolsonaro segue para Budapeste, para se encontrar com seu amigo, o ultraconservador primeiro-ministro Viktor Orban", escreve o diário francês. "Ignorado pelos Estados Unidos e pelos europeus, o presidente brasileiro aceitou rapidamente o convite do Kremlin no final do ano passado, um dos raros que recebeu. "Mas este giro "irrita Washington e contraria os esforços para isolar Vladimir Putin, em um momento em que a estratégia americana parece estar dando frutos com o início de uma 'desescalada' russa", destaca o Le Figaro

O Departamento de Estado americano tentou, sem sucesso, se opor à ida de Bolsonaro à Rússia, conta o veículo. O governo americano lembrou o brasileiro sobre a "responsabilidade" que tinha de "defender os princípios democráticos, de proteger uma ordem baseada em regras e de transmitir esta mensagem com veemência à Rússia, em todas as ocasiões". A reportagem recorda que Trump elevou o Brasil, em 2019, ao status de aliado militar preferencial externo à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e que o país também é membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU.

Em busca de ferramentas para manipular as eleições?

Para entender as motivações de Bolsonaro em insistir numa viagem à Rússia num contexto geopolítico tão delicado, o Le Figaro entrevistou dois especialistas em relações internacionais no Brasil - Felipe Loureiro, da USP, e Mauricio Santoro, da UERJ. Ambos concordam que a visita acontece num "péssimo momento". Bolsonaro demonstra seu apoio a Putin, e o líder russo usará o brasileiro para fazer propaganda de que não está isolado, resumem os analistas políticos.

Questionado pelo jornal se Bolsonaro buscava "um novo mentor" em Putin, depois de ficar órfão de Trump, o historiador Felipe Loureiro disse que "o maior temor é de que a Rússia ofereça a Bolsonaro todo seu know-how  em desinformação, manipulação eleitoral e pirataria na internet" para o político de extrema direita utilizar durante a campanha eleitoral no Brasil.

Contrariamente ao presidente francês, Emmanuel Macron, e ao chanceler alemão, Olaf Scholz, que se recusaram a fazer testes de PCR colhidos e analisados por equipes russas, pelo receio de darem de mão beijada informações genéticas do DNA para a potência inimiga, Bolsonaro e a delegação brasileira se submeteram à exigência da série de testes anticovid para poder entrar no Kremlin, assinala o Le Figaro.