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Após massacre racista, Biden diz que supremacia branca é veneno e promete que "ódio não vencerá"

17/05/2022 14h25

Três dias após o atentado terrorista racista que provocou a morte de dez pessoas, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, esteve na cidade de Buffalo, no estado de Nova York, para prestar solidariedade às famílias nesta terça-feira (17). Em um discurso emocionado, o democrata afirmou que teorias que defendem a supremacia branca são um veneno e prometeu às famílias que o mal não vencerá.

Em um evento marcado pela tristeza que tomou esta comunidade majoritariamente negra dos Estados Unidos, Biden relembrou a história de cada uma das dez vítimas deste ataque classificado como ato "terrorista" de cunho racista.

No sábado (14), um jovem de 18 anos viajou mais de três horas de carros para protagonizar um massacre em um supermercado de Buffalo, segunda cidade mais populosa do estado de Nova York. Com uma arma gravada por inscrições racistas, Payton S. Gendron abriu fogo e matou dez pessoas, além de ferir outras três, antes de se entregar à polícia.

"Nos Estados Unidos, o mal não vencerá, eu prometo a vocês. O ódio não prevalecerá. A supremacia branca não terá a última palavra", afirmou o presidente nesta terça. "O que aconteceu aqui foi simplesmente terrorismo, terrorismo doméstico", resumiu.

Biden sublinhou a presença da supremacia branca dentro da política e fez um apelo pelo combate a essas teorias. "A supremacia branca é um veneno correndo em nosso corpo político que tem apodrecido diante de nossos olhos", disse o presidente, que condenou "aqueles que espalham mentiras por poder, por ganhos políticos e por lucro."

202 ataques em massa em cinco meses

O massacre de Buffalo voltou a chacoalhar o debate sobre a aquisição de armas nos Estados Unidos. Gendron, que já tinha sido suspeito de planejar um atentado, teve permissão para comprar as armas e o colete de balas com o qual se protegeu durante o ataque do final de semana.

"É hora de o Congresso acelerar e aprovar uma legislação nacional sobre a segurança das armas", escreveu o governador de Nova Jersey Phil Murphy.

Os democratas querem uma regra que harmonize as legislações estaduais que permitem a compra de armas, proposta rejeitada pelos republicanos.

Em 2020, mais de 45 mil pessoas morreram por armas de fogo nos Estados Unidos, segundo dados dos Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças (CDC), um recorde. Do total, 24.292 foram suicídios e 19.384 homicídios, maior número desde 1968.

Até o mês de maio deste ano, o país registrou 202 chacinas provocadas por armas de fogo, segundo a ONG Gun Violence Archive. Em cada evento, ao menos quatro pessoas morreram ou ficaram feridas.

"É uma mistura de racismo, ressentimento de classe, medo da mudança, controle de armas inexistente e políticos que querem inflamar e explorar tudo isso para se manter no poder", considera Jeffrey Butts, professor do centro John Jay de Justiça Criminal da Universidade de Nova York.

Teoria da conspiração da "Grande substituição"

Responsável pelo massacre de Buffalo, Gendron escreveu um manifesto de 180 páginas para justificar seus atos. No longo texto, há o excerto: "Sou simplesmente um homem branco que busca proteger e servir minha comunidade, meu povo, minha cultura e minha raça".

Essas são as teses da teoria supremacista branca conhecida como "Grande Substituição", que denuncia uma conspiração para substituir os brancos por imigrantes e negros.

Para o prefeito desta cidade, Byron Brown, seu objetivo era claro: "matar a maior quantidade possível de negros".

Democratas dependem de legislativas para mudar regras

Após endurecer a regulação das chamadas armas "fantasma", que podem ser montadas em casa e não têm número de série, o presidente Joe Biden quer limitar a compra de fuzis de assalto ou impor um sistema universal de verificação de antecedentes criminais e psiquiátricos para os compradores.

Contudo, uma derrota democrata nas eleições legislativas de meio de mandato em novembro impossibilitaria qualquer plano neste sentido, tendo em vista que os republicanos são taxativos em sua defesa ao direito de possuir e portar armas.

(Com informações da AFP e da Reuters)