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Itália cria plano para conter "invasão" de javalis nas áreas urbanas; muitos estão contaminados

19/05/2022 06h24

Várias cidades italianas sofrem com a invasão de animais selvagens em centros urbanos. O que mais preocupa são os javalis que transmitem a peste suína africana. Na terça-feira (17) foi revelado um plano para conter os javalis nos arredores de Roma.

Gina Marques, correspondente da RFI em Roma

Na Itália, a população dos javalis cresce com a ausência de predadores e a abundância de alimentos nas lavouras e também nas lixeiras. As redes sociais divulgam diversas imagens destes animais entrando nas cidades. Algumas mostram fêmeas deitadas nas ruas amamentando seus filhotes. As pessoas se sentem amedrontadas.

Em várias partes do país, foram encontrados javalis mortos contaminados com a peste suína africana. O surto da doença havia sido relatado no noroeste no começo do ano. Na região do Lácio, onde fica a capital, até agora foram confirmados seis casos de javalis infectados. A peste suína é inofensiva ao ser humano, mas é mortal aos porcos.

Para conter uma eventual epidemia nos arredores de Roma, foi revelado um plano que inclui barreiras e o abatimento dos animais. A região do Lácio vai instalar cercas de arame farpado de um metro e meio de altura em um perímetro de 64 quilômetros. Haverá um patrulhamento dia e noite da polícia metropolitana, guardas da Proteção Civil e voluntários. As lixeiras serão reforçadas com grades de ferro, e estão proibidos piqueniques nas áreas onde a doença foi encontrada. O abatimento dos animais começará a partir da metade de junho.

Reações ao abatimento dos javalis

Caçadores, agricultores e uma parte dos habitantes, aprovaram a redução seletiva da população de javalis, ou seja, o abatimento destes animais. Esta semana, um filhote foi encontrado decapitado nos arredores da capital e casos de maus tratos foram registrados em outras cidades italianas.

Os animalistas protestam contra estas medidas. Segundo eles, há uma demonização dos javalis e existem outros métodos para conter a superpopulação desses animais.

Eles argumentam que foi o homem que invadiu o espaço desse animal, e por tabela tirou a fonte de alimentos dele, o introduziu em áreas onde javalis não existiam, e provocou a redução dos seus predadores naturais como o lobo, por exemplo. "Toda ação tem uma reação. Então, é preciso avaliar bem a questão da caça ao javali, que pode ter consequências ainda piores", dizem.

A Organização Internacional Proteção Animal (Oipa) avalia a possibilidade de impugnar esta decisão de abater os animais com a caça.

Esta organização lembra que especialistas da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) afirmaram que "a caça não é uma ferramenta eficaz para reduzir o tamanho da população de javalis na Europa".

A caça na área infectada pela peste suína africana tem duplo risco porque os animais fogem para outros territórios, alastrando o perigo de uma eventual epidemia. Além disso, o vírus pode ser disseminado pelos calçados e roupas dos caçadores e pelos seus cães. Outra desvantagem da caça é que essa prática violenta provoca a destruição da organização dos grupos de javalis, causando a dispersão dos indivíduos e favorecendo a reprodução das fêmeas jovens, o que não aconteceria se estivessem vivendo sob ordem natural.

Número de javalis na Itália

Segundo o Instituto Superior de Proteção e Pesquisa Ambiental (ISPRA), em 2019 na Itália havia 1 milhão de javalis.

Mas de acordo com a Confederação Nacional dos Cultivadores (Coldiretti) três anos depois, em 2022, o número cresceu para 2,3 milhões, basicamente um javali para cada 25 habitantes. Um aumento enorme.

Para o biólogo Gianluca Catullo da associação ambientalista WWF, especializado na metodologia sobre a densidade populacional de animais silvestres "até hoje não existe nenhum número minimamente confiável porque cada um faz suas próprias estimativas sem um embasamento científico".

Um dado é certo: os javalis estão presentes regularmente em 90 cidades italianas. Além de Roma, eles foram avistados em Turim, Gênova, Trieste, Florença e Bari.

Outros animais invasores nas cidades da Itália

A "invasão" de animais silvestres nas áreas urbanas não é recente. Às vezes são avistadas raposas, serpentes e muitas tartarugas abandonas por pessoas.

Além disso, Roma é superpopulada por gaivotas famintas que se nutrem de alimentos jogados no lixo e de pombos.

Em março passado, a prefeitura contratou um falcoeiro com duas aves de rapina treinadas para caçar gaivotas, ou pelo menos afastá-las do centro histórico. A proliferação de corvos e periquitos invasores também prejudica o equilíbrio da fauna local. Esses periquitos não são nativos europeus e provavelmente foram trazidos por seres humanos.

Elefantes de circo

Sobre animais selvagens na cidade eterna, na semana passada quatro elefantes circularam pelas ruínas dos Fóruns Imperiais surpreendendo muita gente. Os paquidermes, vindos de dois circos, foram usados nas gravações do filme 'Il sol dell'avvenire', do diretor Nanni Moretti.

A utilização destes animais foi duramente criticada, pois hoje existem efeitos especiais cinematográficos sem necessidade de promover a crueldade animal. Além disso, cada vez mais os italianos reprovam a prisão de animais para serem exibidos como palhaços de espetáculos.

Uma recente pesquisa encomendada pelo Eurogroup for Animals revelou que 77% dos italianos e 68% dos europeus reprova a presença de animais selvagens em circos.