Topo

Jogador do PSG que recusou usar símbolo LGBT gera escândalo na França e solidariedade no Senegal

19/05/2022 10h13

O Conselho Nacional de Ética (CNE) da Federação Francesa de Futebol (FFF) pediu ao jogador senegalês Idrissa Gana Gueye, que atua no Paris Saint-Germain, que dê explicações sobre as acusações de que teria se negado a usar uma camisa com as cores da bandeira LGBTQIA+, como parte de uma campanha da qual seu time faz parte. No país de origem do craque, porém, a atitude recebe a solidariedade de personalidades e até do presidente do Senegal.

O canal francês RMC informou no domingo (15) que Gueye não jogou com o PSG contra o Montpellier no sábado (14) para não ter que vestir a camisa com os números pintados nas cores do arco-íris, símbolo da comunidade LGBTQIA+. A iniciativa fazia parte de uma campanha conjunta das 20 equipes da primeira divisão para a 37ª rodada do Campeonato Francês, como parte da celebração do Dia Internacional contra a Homofobia e a Transfobia, em 17 de março.

Gueye não jogou contra o Montpellier e não estava lesionado, como informou o treinador do PSG, Mauricio Pochettino.

"Esta ausência (...) foi amplamente interpretada como uma negativa a participar nesta operação de sensibilização e de luta contra as discriminações", escreveu o CNE, que não tem poder disciplinar.

Silêncio

O meia senegalês deverá esclarecer se são "infundadas" ou não as acusações de ter se negado a participar da ação simbólica do futebol francês contra as discriminações. "Ou essas suposições são infundadas e o convidamos sem demora a se expressar para acabar com esses rumores, ou esses rumores estão certos. Neste caso, pedimos ao jogador que seja consciente do alcance de seu gesto e do gravíssimo erro cometido", escreveu Patrick Anton, presidente do CNE.

O CNE sugeriu a Gueye que sua resposta venha "acompanhada" de "uma foto usando a camisa em questão". "Recusar-se a participar desta operação coletiva valida os comportamentos discriminatórios, nega o outro, e não somente vai contra a comunidade LGBTQI+", acrescenta o texto do CNE.

Não é a primeira vez que o jogador se envolve em uma polêmica nesta data. No ano passado, na rodada dedicada à luta contra a homofobia, Gueye não entrou em campo alegando estar com gastroenterite.

Presidente pede respeito a "crenças religiosas"

Já no seu país de origem, o Senegal, a atitude do campeão da Copa Africana das Nações de 2022 suscitou uma onda de apoio, tanto entre a população como na imprensa e na política. Até o presidente Macky Sall pediu esta semana, pelo Twitter, respeito às "crenças religiosas" - 95% da população senegalesa é muçulmana.

O ministro dos Esportes do país, Matar Bâ, foi o primeiro a se exprimir a respeito. Na sequência, o ministro do Interior, Aly Ngouille Ndiaye, parabenizou o atleta pela "escolha corajosa de não ter usado uma camisa contendo sinais contrários aos seus valores e suas crenças", informa a correspondente da RFI em Dakar, Charlotte Idrac.

Opositores do governo também se posicionaram neste sentido. "Gana Gueye não é homofóbico. Ele não deseja que a sua imagem sirva para promover a homossexualidade. Deixem ele em paz", escreveu o ex-primeiro ministro Abdoul Mbaye, assim como outro opositor, Ousmane Sonko, que demonstrou "todo o apoio" ao jogador.

Defensores locais dos direitos das pessoas LGBTQIA+, por sua vez, denunciaram uma reação "populista" do presidente. Perante a lei, atos considerados como "contra a natureza" podem ser punidos com penas de até cinco anos de prisão.

Com informações da AFP