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O que os EUA devem fazer para que a Cúpula das Américas não seja um fiasco?

26 mar. 2022 - Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante reunião no Palácio Presidencial da Polônia, em Varsóvia - Brendan Smialowski/AFP
26 mar. 2022 - Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante reunião no Palácio Presidencial da Polônia, em Varsóvia Imagem: Brendan Smialowski/AFP

Thiago de Aragão

Washington

23/05/2022 07h21Atualizada em 23/05/2022 07h49

Entre os dias 6 e 10 de junho, Los Angeles sediará a Cúpula das Américas. Joe Biden será o anfitrião de uma cúpula onde o interesse latino-americano em participar é baixo e sem uma agenda propositiva robusta sobre as oportunidades que podem ser geradas entre os países da região e os EUA.

Desde o fim da Guerra Fria, a agenda americana na região tem sido marcada por problemas. Tanto para os EUA quanto para líderes latino-americanos, o diálogo se concentra em imigração ilegal, lavagem de dinheiro, narcotráfico, corrupção e falhas no processo democrático. Naturalmente, são todos temas importantes e necessários, mas, compreensivelmente, inúmeros governos regionais já estão cansados de serem sabatinados sobre a ausência de avanços concretos no combate a esses problemas.

Até 2008, não havia muitas escolhas para países da América Latina, quando em diálogo com os EUA, de fugir desses temas. Afinal, os EUA eram os principais parceiros comerciais da ampla maioria. De 2008 para cá, quando tivemos a crise dos bancos Lehman Brothers e do Bear Stearns, a China enxergou uma oportunidade que não largou desde então.

Quase 200 bilhões de dólares foram investidos ou financiados na região, enquanto os EUA pouco modificaram a narrativa que gira em torno de problemas e não de oportunidades.

Em dezembro de 2021, a China organizou uma Cúpula virtual com ministros de relações exteriores da região e teve um amplo sucesso na adesão.

Evitar um fiasco

Para a Cúpula deste ano em Los Angeles, o México lidera a lista de países importantes que não estão dispostos a participar. O Presidente mexicano Andrés Manoel López Obrador avisou ao governo americano que não teria interesse em participar se Cuba, Venezuela e Nicarágua não fossem convidados.

Biden já havia deixado claro que o convite não seria estendido a esses países. Vários países caribenhos, além da Bolívia, seguiram na mesma linha que a mexicana e também não demonstraram tanto interesse. Brasil e Argentina não confirmaram nem rejeitaram suas participações até o momento.

Uma Cúpula esvaziada é pior do que não ter uma Cúpula. Obviamente, o governo americano não poderá cancelar a essa altura do campeonato e seria uma derrota impactante perante os olhos da região. O que resta fazer? Propor uma agenda de oportunidades e de colaboração para o fortalecimento econômico já seria de grande valia e poderia fazer com que vários países considerassem suas participações.

Biden precisa entender que a China traz uma narrativa de oportunidades, por mais dúbias que elas possam ser a médio e longo prazo. O único país do mundo que pode contrapor a dependência consensual gerada pela China é os Estados Unidos.

Para isso, não existe outra saída a não ser meter a mão no bolso. Há também a alternativa sempre bem-vinda de trocar os temas centrais. Claro que devemos sempre debater a imigração ilegal, narcotráfico, corrupção, etc, mas também devemos ter espaço para debater quais são os interesses de países latino-americanos e como eles podem voltar a se beneficiar de uma relação com os Estados Unidos.