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Ucrânia: Moscou pede fim de sanções internacionais para evitar crise alimentar mundial

25/05/2022 10h57

Um alto diplomata russo exigiu nesta quarta-feira (25) o fim das sanções visando Moscou para evitar a crise alimentar mundial resultante da ofensiva russa. A Ucrânia, grande exportador de cereais, teve sua produção bloqueada devido aos combates e a Rússia não pode exportar devido às sanções que atingem os setores financeiros e logísticos. O governo russo também anunciou que passará a pagar sua dívida externa em rublos.

"A resolução do problema alimentar passa por uma aproximação coordenada, que implica sobretudo o fim das sanções que foram instauradas contra as exportações russas e as transações financeiras", declarou um ministro adjunto de Relações Exteriores, Andrei Roudenko, citado por agências de notícias russas.

Ele também exigiu que Kiev retire as minas dos portos do mar Negro para que os navios possam exportar os cereais. Para isso, o diplomata afirmou que a Rússia estava "pronta para garantir um corredor humanitário" aos barcos.

Conhecida por suas terras muito férteis, a Ucrânia era, antes da ofensiva, o quarto exportador mundial de milho e estava prestes a se transformar no terceiro exportador de trigo. Mas o conflito atrapalhou a produção agrícola do país.

Além disso, Kiev e os países ocidentais acusam a Rússia de impedir as exportações de cereais via Mar Negro, principalmente no grande porto de Odessa, aumentando o risco de uma grave crise alimentar mundial.

Por sua vez, as exportações de cereais e também de pesticidas produzidos pela Rússia foram fortemente perturbados pelas sanções ocidentais, que reforçam a ameaça de escassez de produtos agrícolas.

Andrei Roudenko também desmentiu as acusações de que Moscou teria roubado estoques de cereais ucranianos nas zonas conquistadas. A diplomacia russa também reagiu à proposição da Lituânia na terça-feira (24) de criar uma "coalizão" de potências para proteger as vias marítimas no mar Negro e desbloquear as exportações de cerais da Ucrânia. Um mecanismo como este "agravaria seriamente a situação na região do mar Negro", alertou Roudenko.

Possível calote russo

A Rússia vai reembolsar sua dívida em rublos, indicou nesta quarta-feira (25) o ministério russo das Finanças, como consequência do fim da isenção de Washington que permitia a Moscou pagar suas dívidas em dólares.

"A recusa de prolongar esta licença faz com que seja impossível continuar a honrar a dívida externa em dólares. Os reembolsos vão ser feitos em moeda russa com a possibilidade de convertê-los, em seguida, em divisa original via o National Settlement Depository (NSD) que servirá de agente pagador", afirmou o ministério em um comunicado.

O NSD é um organismo russo centralizado encarregado do depósito de títulos financeiros intercambiados no país. "O ministério russo das Finanças, como devedor responsável, garante sua vontade de continuar a honrar e reembolsar todas suas obrigações financeiras", garantiu o ministério russo no comunicado.

O Tesouro americano anunciou na terça-feira (24) ter decidido colocar fim, a partir da meia-noite desta quarta-feira, em Washington, uma exceção que permite Moscou pagar suas dívidas em dólares. Estabelecida desde o começo das sanções ocidentais contra a Rússia, em represália à guerra da Ucrânia, essa isenção permitiu a Moscou escapar de dar o calote em seus credores.

Ela foi decidida por Washington para "permitir uma transição organizada e aos investidores de vender seus títulos", explicou a secretária americana do Tesouro, Janet Yellen, na semana passada, indicando que a medida tinha data para terminar.

A Rússia já não podia mais reembolsar sua dívida com os dólares retidos em bancos americanos, devido às sanções tomadas pelos Estados Unidos em 5 de abril. A diretora do Banco Central russo, Elvira Nabioullina, reconheceu, em 29 de abril, que Moscou estava enfrentando "dificuldades de pagamentos", mas se recusou a falar de um possível calote.

A dívida externa da Rússia representa, segundo seu ministério das Finanças, entre 4.500 e 4.700 bilhões de rublos (entre US$ 78 e US$ 81 bilhões no câmbio atual), e representa 20% da dívida pública.

(Com informações da AFP)