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Convenção de armas começa nos EUA em meio a luto por massacre no Texas

Cruzes com nomes das vítimas do massacre em escola de Uvalde, no Texas, Estados Unidos - Marco Bello/Reuters
Cruzes com nomes das vítimas do massacre em escola de Uvalde, no Texas, Estados Unidos Imagem: Marco Bello/Reuters

27/05/2022 07h17

O poderoso lobby de armas dos Estados Unidos, a Associação Nacional do Rifle (NRA), abre hoje sua convenção anual em Houston, no Texas. O estado foi palco nesta semana de um dos piores massacres em uma escola, que deixou 21 mortos, entre eles, 19 crianças.

A cerca de 500 quilômetros de Uvalde, no sul do país, onde um adolescente de 18 anos promoveu uma matança na terça-feira (24), a maior feira de armas dos Estados Unidos tem início ao mesmo tempo em que o país debate a adoção de uma legislação mais rígida sobre a questão. Na quinta-feira (26), a NRA se contentou em denunciar um ato "de um criminoso isolado e problemático".

Entre as presenças confirmadas no evento está a do ex-presidente Donald Trump, que discursará em Houston. Na quarta-feira (25), o republicano justificou sua participação no evento, declarando que os Estados Unidos "precisam de verdadeiras soluções e de uma verdadeira liderança neste momento, não de políticos e declarações partidárias". "É por isso que respeitarei meu engajamento de falar na convenção da NRA no Texas", afirmou, prometendo "um discurso importante ao povo americano".

O fabricante do fuzil de assalto utilizado no massacre de Uvalde, Daniel Defense, indicou na quinta-feira (26) que não participará do evento "devido à horrível tragédia de Uvalde, onde um dos nossos produtos foi utilizado de maneira criminosa", anunciou um porta-voz da empresa. "Acreditamos que não é apropriado promover nossos produtos nesta semana", reiterou.

Depois de receber fortes críticas, a companhia apagou um tuíte publicado em 16 de maio em que mostra uma criança segurando um fuzil. Na legenda, uma não menos polêmica mensagem: "Treine uma criança no caminho que ela deveria tomar e quando ela for mais velha, não vai se desviar".

Demora para polícia agir

A polícia do Texas também está no centro de uma polêmica, acusada de ter demorado demais para intervir na escola fundamental de Uvalde, onde o massacre ocorreu. Segundo vídeos e vários testemunhos, os pais aguardavam desesperados para que os agentes agissem, enquanto o autor do ataque, Salvador Ramos, realizava o ataque.

"Os agentes reagiram em poucos minutos", defendeu o chefe da polícia de Uvalde, Daniel Rodríguez.

Diante da enxurrada de críticas, Victor Escalón, do Departamento de Segurança Pública do Texas (DPS), disse durante coletiva de imprensa que os investigadores ainda trabalhavam para reconstituir o que ocorreu exatamente. Ele também negou relatos anteriores de que o atirador teria sido confrontado por um funcionário da escola e disse que não havia nenhum agente armado no local quando o ataque começou.

Em um vídeo publicado nas redes sociais, os pais dos alunos aparecem frustrados, implorando para a polícia intervir. As imagens também mostram um policial empurrando violentamente uma pessoa que tentava entrar no estabelecimento.

Daniel Myers, pastor de 72 anos, contou ter chegado com sua esposa, Matilda, em frente à escola, 30 minutos depois de o autor do ataque chegar ao local. Os pais "estavam prontos para entrar. Um disse: 'Estive no exército, só me dê uma arma. Não vou hesitar. Vou entrar'", contou.

Cidade inteira em luto

A tragédia abalou Uvalde, uma cidade de 16.000 habitantes perto da fronteira com o México, com uma população predominantemente latina. A Casa Branca anunciou que o presidente americano, Joe Biden, e sua esposa, Jill, viajarão no domingo ao local para "acompanhar o luto da comunidade".

Uma das professoras da escola que estava presente quando ocorreu a tragédia, disse ao canal americano ABC que seus alunos estavam assistindo a um desenho animado, quando ouviram os disparos. Os alunos puseram rapidamente em prática o treinamento que recebem para este tipo de incidente, ficando em silêncio debaixo de suas carteiras. Estes procedimentos viraram a norma nas escolas dos Estados Unidos, onde os ataques a tiros mortais se repetem exaustivamente.

Os sons dos disparos "foram muito fortes", disse à AFP Madison Saiz, uma aluna de oito anos. "Nossa professora nos disse que ficássemos em um canto e toda a nossa turma simplesmente fez isso", contou

Nos Estados Unidos, os ataques a tiros nas escolas são um flagelo recorrente que os sucessivos governos até agora não foram capazes de deter. O debate sobre a regulação das armas está quase suspenso, diante da falta de esperança de que o Congresso aprove uma ambiciosa lei federal sobre o tema.

O movimento "Marcha por nossas vidas", criado após o ataque a tiros em Parkland, em 2018, convocou uma grande manifestação para 11 de junho em Washington para pedir regulações mais restritas para o porte de armas.