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Imprensa francesa repercute caso de homem asfixiado em Sergipe e operação em favela no Rio

27/05/2022 09h50

As suspeitas de torturas e "execuções sumárias" que pesam sobre a polícia brasileira após a operação na favela Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, na terça-feira (24), que resultou em ao menos 24 mortos, e a morte de um homem em uma abordagem policial em Sergipe ganham destaque na imprensa francesa.

"O Brasil está chocado por uma nova série de violências policiais", diz o site do jornal Ouest France, a publicação de maior tiragem da França, que traz relatos de responsáveis dos direitos humanos sobre torturas e execuções sumárias durante a operação no Rio.

"Se consultamos as estatísticas no mundo inteiro, nunca vamos ver um tiroteio onde mais de 20 pessoas morrem de um lado e nenhuma do outro", diz Rodrigo Mondengo, procurador da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, citado pelo Ouest France, colocando em questão o argumento da polícia de que foi atacada ao chegar ao local.

O site destaca a mensagem do presidente Jair Bolsonaro no Twitter parabenizando "os guerreiros do Bope" e da PM do Rio de Janeiro "que neutralizaram pelo menos 20 marginais ligados ao narcotráfico em confronto".

O jornal também destaca a morte de Genivaldo de Jesus Santos, asfixiado após ter sido forçado a entrar no porta-malas de uma viatura policial. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) garantiu, em um comunicado, que os agentes tinham "empregado técnicas de imobilização", diante da agressividade de Genivaldo durante um controle policial.

Mas um vídeo feito por testemunhas, que se tornou viral, mostra claramente dois agentes que fecham o homem no porta-malas do carro de onde sai uma fumaça branca de uma bomba de gás lacrimogêneo.

Incursão sangrenta

A correspondente do jornal Le Monde no Rio de Janeiro, Anne Vigna, assina uma matéria sobre a operação policial em Vila Cruzeiro. "Incursão sangrenta em uma favela", diz o título. O texto traz relatos de testemunhas recolhidos por representates do Ministério Público do Rio de Janeiro.

O jornal lembra que um relatório recente sobre as operações nas favelas do Rio mostra que a polícia foi responsável por 878 mortes em 223 incursões, entre 2016 e 2021.