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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Separatistas pró-russos reivindicam tomada cidade estratégica na Ucrânia

Um veículo blindado do exército ucraniano na cidade de Severodonetsk, região de Donbass - FADEL SENNA / AFP
Um veículo blindado do exército ucraniano na cidade de Severodonetsk, região de Donbass Imagem: FADEL SENNA / AFP

27/05/2022 11h15

Os separatistas pró-Rússia anunciaram nesta sexta-feira (27) ter conquistado a cidade de Lyman, no leste da Ucrânia. Na localidade, considerada estratégica, as tropas russas vinham ganhando terreno após mais de três meses de ofensiva.

Em sua conta no Telegram, o Estado-Maior da milícia separatista pró-russa de Donetsk indicou que "assumiu o controle total" de Lyman, com o apoio das unidades militares da região separatista de Luhansk e das forças armadas de Moscou. Até o momento, Moscou não comentou a conquista.

Após ter fracassado na tomada de Kiev e Kharkiv, o exército russo concentra seus esforços no Donbass, uma zona de mineração onde estão as regiões de Donetsk e Lugansk, perto da fronteira com a Rússia. Lyman é um importante centro ferroviário no nordeste de Slaviansk, brevemente tomada por separatistas em 2014, e Kramatorsk, capital da região de Donetsk, que continua sob o controle da Ucrânia.

A tomada de Lyman permitiria às tropas russas superar o último obstáculo para avançar para Slaviansk e Kramatorsk. A manobra serviria também para cercar Severodonetsk e Lysychansk, mais a leste, outras duas cidades cobiçadas pela Rússia.

Genocídio no Donbass

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou na quinta-feira (27) a Rússia de cometer "genocídio" no Donbass, onde a cidade de Severodonetsk é alvo de intensos bombardeios. Ele acusou a Rússia de querer "reduzir a cinzas" várias outras cidades da região.

"A atual ofensiva dos ocupantes no Donbass pode deixar a região inabitável", afirmou Zelensky esta madrugada em seu discurso cotidiano. Segundo ele, a Rússia exerce "deportação" e "assassinatos em massa de civis". "Tudo isso é uma política clara de genocídio", acrescentou.

Essa não é a primeira vez, desde o começo da guerra na Ucrânia que essa expressão é utilizada. Para justificar a invasão iniciada em 24 de fevereiro, Moscou usou, entre outros motivos, um suposto "genocídio" da população de língua russa do Donbass, palco de uma guerra entre Kiev e os separatistas pró-Rússia desde 2014.

Em abril, o termo foi usado pelo Parlamento ucraniano para se referir às mortes de dezenas centenas de civis em Bucha, que chocaram o mundo. Líderes internacionais, como o presidente americano, Joe Biden, ou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, também usaram a palavra "genocídio" para se referir ao massacre.

Severodonetsk pode ter mesmo destino de Mariupol

O exército russo também bombardeia Severodonetsk, alertou nesta sexta-feira o governador de Lugansk, Sergei Gaidai. Segundo ele, a cidade poderá sofrer o mesmo destino de Mariupol, um importante porto do sudeste devastado após semanas de cerco.

Pelo menos cinco civis foram mortos em 24 horas na região: quatro em Severodonetsk e um em Komychuvakha, a 50 quilômetros de distância. Em Dnipro, uma cidade industrial no centro-leste da Ucrânia, uma autoridade local anunciou nesta sexta-feira "uma dúzia" de mortos e cerca de 30 feridos em um bombardeio russo contra um campo militar. "Os russos bombardeiam constantemente áreas residenciais", denunciou Gaidai no Telegram.

O chefe da administração civil e militar de Severodonetsk, Alexander Striuk, disse que ainda há entre 12.000 e 13.000 pessoas na cidade, que tinha 100.000 habitantes antes da guerra. "Cerca de 60% do parque habitacional de Severodonetsk foi destruído. Entre 85-90% dos prédios da cidade foram danificados e precisarão de uma grande restauração", reiterou.

As tropas ucranianas continuam a resistir, mas vêm perdendo terreno. "Acreditamos que as forças russas tomaram a maior parte do nordeste de Severodonetsk, embora ainda haja combates", informou um alto funcionário do Departamento de Defesa dos EUA.

Novos bombardeios em Kharkiv

Mais ao norte, em Kharkiv, as sirenes de ataque aéreo voltaram a soar nesta sexta-feira. No dia anterior, um bombardeio deixou nove mortos e 19 feridos, incluindo um bebê de cinco meses e seu pai, segundo o presidente Zelensky. Os mísseis caíram em um setor residencial do bairro Pavlové Polé.

A Rússia havia abandonado sua ofensiva nesta cidade para concentrar suas tropas no leste e sul da Ucrânia e sua população tentava um difícil retorno à normalidade, retomando os transportes públicos. Mas as forças de Moscou voltaram a se concentrar no leste de Kharkiv, enquanto os ucranianos cavam trincheiras ao redor da cidade e erguem blocos de concreto, além de postos de controle contra um possível novo ataque.

A Ucrânia voltou a pedir mais armamentos aos países ocidentais. "Alguns parceiros evitam dar as armas necessárias por medo de escalada. Escalada, é sério? A Rússia já está usando as armas não nucleares mais pesadas, está queimando pessoas vivas. Talvez seja hora (...) de nos darem MLRS [lançadores de foguetes múltiplos]", tuitou Mikhailo Podoliak, conselheiro da presidência ucraniana.

Já o Kremlin rejeitou na quinta-feira um plano de paz italiano. Analistas dizem que o governo russo quer consolidar conquistas no sul e no leste da Ucrânia antes de qualquer solução negociada. A proposta também previa um cessar-fogo e a retirada das tropas sob supervisão da ONU, a entrada da Ucrânia na União Europeia, mas não na Otan, e um status de autonomia para o Donbass e a Crimeia sob soberania ucraniana.

Temor de escassez de alimentos

A guerra entre a Ucrânia e a Rússia, grandes exportadores de grãos e responsáveis por um terço da produção mundial de trigo, está afetando o mercado global de alimentos e aumentando os temores de escassez de alimentos. Os portos da ex-república soviética estão bloqueados, com milhares de toneladas de grãos se acumulando em armazéns.

De acordo com o general americano Chris Cavoli, a Alemanha propôs construir uma "ponte ferroviária" com a Ucrânia para transportar essa mercadoria.

O presidente russo, Vladimir Putin, sugeriu o fim das sanções ocidentais contra Moscou para "superar a crise alimentar". Os Estados Unidos rejeitaram a oferta. "Eles estão transformando comida em arma", disse o porta-voz do Pentágono, John Kirby.

(Com informações da AFP)